nada que tive era meu
Nada que tive era meu.
Perdi estradas, perdi leito.
Na pedra onde me deito
nada fala de alvos linhos.
Se, com cegos, me aventuro,
a caminhar rente aos muros,
é que meus olhos impuros
sonham Cristo nos caminhos.
Nada que tive era meu
e o corpo não o quero eu.
Podia servir de embalo,
mas serve de sepultura.
Cemitério de asas finas,
tange e plange aladas crinas,
canto de praias sulinas
de infinitas amarguras.
Natércia Freire, in Poemas (1957)
O Livro da Natércia, ed. quasi, 2005.
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