Ave Azul
1. Voam aves azuis no cimo das montanhas
Aos pés dos anjos seis vezes alados
E aos ombros dos homens
Que não vêem com escamas nos olhos.
2. Acumula-se o vazio no azul das aves
Puro e frio de felicidade.
3. Chegam virgens soberbas ladeadas pela ânsia dos amantes
Na fusão dos vermelhos
Das horas da alvorada e do crepúsculo
Bebidos por eros no festim da primavera.
4. Nos ombros dos homens
Há aves e montanhas
Pisadas pelos anjos num adejo
Do justo encontro do céu baixado à terra.
5. Homens e aves desenham triângulos
Com unhas e bicos
E os deuses impávidos...
6. E os deuses e os homens na montanha
Imolam aves azuis
Libertando os mortos
Que regressam à pátria.
7. As aves azuis...
Almas solitárias
Intentando comunicar com os alheios.
8. As aves azuis da cor da verdade
E da luz da noite
Vêm pela via láctea
Ao país dos mortos.
9. Finas hastes de trigo fecundam as virgens aladas
Na manifestação
Do influxo iluminador da marcha mística.
10. Guiados pelos condutores de astros
Serafins ardentes
Voam nas asas dos ventos invisíveis
Cobrindo os rostos para que o olhar não lhes fuja
Exaustos da visão arensada pelos cisnes da boa nova.
11. As aves são minhas e sempre azuis
E são montadas por anões
E os anões são os meus desejos
Incarnados em pouca matéria corruptível
Vindos da profundura da gruta no flanco da montanha
Onde forjam o aço da lança de odin
------» A do rumo certo.
pn, in Ave Azul, Revª de Arte e Crítica, dir. de Martim G. e Sousa.
pn, foto trabalhada com filtros, de colcha bordada, do património da ESENVIS.
<< Home