sexta-feira, março 30, 2007

carta da noite



"carta da noite que o dia recebe no seu colo vagaroso e apaziguador. carta que a noite sempre me dita e eu contenho para que não grite. é esta a carta que ando a escrever nos intervalos vagos do pensamento para te dizer do lugar do vento na tua ausência, o vento como vaga que vem da tua boca para a minha. carta que te quer dizer dos sobressaltos da noite, as descidas profundas para o teu nome, os socalcos prazenteiros que se abrem ao sol de outono quando te penso perto. carta que te fala dos sulcos da pele, da vaga impressão de desamparo na falta do teu corpo. carta esta onde te tenciono falar do calor que me ruboriza ao saber-te do lado de lá a falar-me calmamente, ouvir a tua voz vagarosa e simples dizer-se e eu responder, deixar o serão envolver-nos na sua manta quente, é sempre inverno quando a noite chega e a tua presença me cresce dentro como um fogo a incinerar devagar o tempo."

(...)

ana