quinta-feira, maio 10, 2007

rio

o meu rio já pouco arrasta
leva no caudal pasmado
ramo velho, seco lenho
cuja ponta em ironia
desfralda leve e verde
folha teimosa e trémula
sorvendo a última seiva
deste tronco enrugado
disforme e mal esgalhado
que meu rio alheio arrasta.
e é leve a brisa do ocaso
sussurrando à folha teimosa
um recado ciciado
e a folha verde teimosa
numa ufania de instantes
desfraldada acolhe em si
o segredo murmurado
que a faz sulcar do pasmo
até à foz ondeada
onde o ramo velho, seco lenho
disforme e mal esgalhado
numa maré a preceito
por breves instantes só
é canoa ou galeão
a dobrar o bojador
rumo ao mar da perdição.