domingo, junho 10, 2007

1 de Junho de 1890...





...Camilo Castelo Branco suicida-se com um tiro de revólver, no escritório de sua casa, em São Miguel de Ceide, a 7 km de Vila Nova de Famalicão.
Em 28 de Abril de 1856, escrevia a José Barbosa e Silva: "Foi muito grave no prognóstico da minha doença de olhos; mas hoje está averiguado que é efeito de venéreo inveterado. Sofro há quase meses uma diplopia. É horrível para quem não tem outra distracção além da leitura. Tarde será o meu restabelecimento; mas valham-me as esperanças de não cegar, por que isso importava um inevitável suicídio."
Ao mesmo, em carta de 4 de Maio de 1858: "Nunca a ideia do suicídio me visitou tão galharda e sedutora."
22 de Novembro de 1886, Declaração: "Os incuráveis padecimentos que se vão complicando todos os dias levam-me ao suicídio -- único remédio que lhe posso dar."
12 de Outubro de 1887, em carta a Francisco Martins Sarmento: "Eu bem queria poupar-me ao suicídio; mas desde os 18 anos que pressenti a necessidade dessa evasiva, sem me lembrar que a cegueira seria o impulso justificadíssimo da catástrofe."
1888, em carta a Freitas Fortuna, s/d: "As minhas cartas estão lançadas. Assevero-lhe que não cegarei completamente, e o mais é que o próprio médico (Gama Pinto) aprovou a minha resolução do suicídio, dada a catástrofe."
1889, em carta a Tomás Ribeiro: "Logo que de todo cegue, suicido-me."
Efectivamente, a 1 de Junho do ano seguinte, Camilo concretiza o seu reflectido impulso, sentado à secretária onde houvera escrito tantas páginas das suas inesquecíveis obras.
Fez hoje 117 anos e 9 dias.
Este post surgiu depois de, ao fotografar algumas velharias minhas, em busca de um enfoque interessante, me acorrer à ideia de que, nas imagens recém-tomadas, estava a essência dos últimos instantes do grande escritor: a pena e o tinteiro, os papéis manuscritos, a boquilha do cigarro e o revólver 7.65.
Curiosamente, repito, sem qualquer intenção de vir a desaguar aqui, nesta foz...
A consulta bibliográfica foi no Dicionário de Camilo Castelo Branco, de Alexandre Cabral, ed. Caminho, Lx, 1988.