sábado, agosto 11, 2007

Miguel Torga nasceu há 100 anos

Inédito do artista plástico viseense, Pedro Albuquerque.
No dia 12 de Agosto de 1907, em São Martinho da Anta, Sabrosa, concelho de Vila Real de Trás-os-Montes, nasceu Adolfo Rocha. Sob o pseudónimo de Miguel Torga, o médico otorrino com consultório no Largo da Portagem, em Coimbra, deixou-nos vasta produção literária, em re-edição de Centenário pela Dom Quixote, principalmente de poesia, contos, teatro, ensaios e discursos.

Muita da sua poesia está compulsada in Antologia Poética (1981). Os Diários, do vol. I (1941), ao XXV (1993), como escrita autobiográfica, foram, talvez, as suas mais conhecidas obras. Destacamos, ainda, ao acaso, Orfeu Rebelde (1958); Bichos (1940) Terra Firme, teatro (1941) e Portugal (1950).

Tive o prazer de o conhecer pessoalmente e de ser aluno de sua esposa, a professora (belga) Andrée Crabée, que publicou as minhas primícias literárias, em 1986, nos Cadernos de Literatura, e também sua filha Clara Crabée Rocha, na FLUC.

Hoje faria 100 anos este grande escritor e indefectível democrata, tantas vezes censurado, perseguido e preso pela Pide. Miguel, como Unamuno, que muito admirava, e Torga como as raizes das plantas das terras áridas que ao fundo da terra têm que ir buscar o alimento, e ninguém por mor delas da terra arranca (assim metaforizando o seu carácter profundamente telúrico).

Deixo um texto de 1981, titulado Depoimento, em jeito de balanço final, como exemplo de uma vida íntegra, de lutador, vertical e inconformado:

De seguro
Posso apenas dizer que havia um muro
E que foi contra ele que arremeti
A vida inteira.
Não, nunca o contornei.
Nunca tentei
Ultrapassá-lo de qualquer maneira.

A honra era lutar
Sem esperança de vencer.
E lutei ferozmente noite e dia,
Apesar de saber
Que quanto mais lutava mais perdia
E mais funda sentia
A dor de me perder.