Miguel Torga nasceu há 100 anos
Inédito do artista plástico viseense, Pedro Albuquerque.
Hoje faria 100 anos este grande escritor e indefectível democrata, tantas vezes censurado, perseguido e preso pela Pide. Miguel, como Unamuno, que muito admirava, e Torga como as raizes das plantas das terras áridas que ao fundo da terra têm que ir buscar o alimento, e ninguém por mor delas da terra arranca (assim metaforizando o seu carácter profundamente telúrico).
Deixo um texto de 1981, titulado Depoimento, em jeito de balanço final, como exemplo de uma vida íntegra, de lutador, vertical e inconformado:
De seguro
Posso apenas dizer que havia um muro
E que foi contra ele que arremeti
A vida inteira.
Não, nunca o contornei.
Nunca tentei
Ultrapassá-lo de qualquer maneira.
A honra era lutar
Sem esperança de vencer.
E lutei ferozmente noite e dia,
Apesar de saber
Que quanto mais lutava mais perdia
E mais funda sentia
A dor de me perder.
No dia 12 de Agosto de 1907, em São Martinho da Anta, Sabrosa, concelho de Vila Real de Trás-os-Montes, nasceu Adolfo Rocha. Sob o pseudónimo de Miguel Torga, o médico otorrino com consultório no Largo da Portagem, em Coimbra, deixou-nos vasta produção literária, em re-edição de Centenário pela Dom Quixote, principalmente de poesia, contos, teatro, ensaios e discursos.
Muita da sua poesia está compulsada in Antologia Poética (1981). Os Diários, do vol. I (1941), ao XXV (1993), como escrita autobiográfica, foram, talvez, as suas mais conhecidas obras. Destacamos, ainda, ao acaso, Orfeu Rebelde (1958); Bichos (1940) Terra Firme, teatro (1941) e Portugal (1950).
Tive o prazer de o conhecer pessoalmente e de ser aluno de sua esposa, a professora (belga) Andrée Crabée, que publicou as minhas primícias literárias, em 1986, nos Cadernos de Literatura, e também sua filha Clara Crabée Rocha, na FLUC.
Hoje faria 100 anos este grande escritor e indefectível democrata, tantas vezes censurado, perseguido e preso pela Pide. Miguel, como Unamuno, que muito admirava, e Torga como as raizes das plantas das terras áridas que ao fundo da terra têm que ir buscar o alimento, e ninguém por mor delas da terra arranca (assim metaforizando o seu carácter profundamente telúrico).
Deixo um texto de 1981, titulado Depoimento, em jeito de balanço final, como exemplo de uma vida íntegra, de lutador, vertical e inconformado:
De seguro
Posso apenas dizer que havia um muro
E que foi contra ele que arremeti
A vida inteira.
Não, nunca o contornei.
Nunca tentei
Ultrapassá-lo de qualquer maneira.
A honra era lutar
Sem esperança de vencer.
E lutei ferozmente noite e dia,
Apesar de saber
Que quanto mais lutava mais perdia
E mais funda sentia
A dor de me perder.
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