quarta-feira, outubro 24, 2007

receita antiga

diluir a mentira no espéculo verosímil dado pela verdade à vida
obter um resultado opaco onde a luz refulja a medo
desagregar quaisquer cambiantes rebeldes ou impermeáveis
alisar os factos e os in-factos até conseguir uma superfície ligeiramente porosa com um leve resquício de atrito
combinar tudo num tom cromaticamente neutro e regular
instituir o arrepanho ascendente das comissuras labiais
evitar as acutilâncias
apoiar os fáticos
ver sem olhar
acariciar as rugas com o acarinhamento táctil do banal
vestir indumentária que tapando disfarce
recusar toda a certeza
abrir a porta aos contudo e todavia
obviar os sentimentos
curvar ligeiramente a torre vertebral
ampliar gradualmente a linha ventral
pensar pouco e se
serafizar
moralizar qb
perdurar a erecção para evitar esforços
calorizar ao sol
miopisar
protesisar
desenhar lápides semelhantes a arranha-céus ou vice-versa deixando ainda a hipótese de serem pontas de esferográficas ou seringas perfiladas
fazer uma marinada carrasquenta e deixar cozendo em lume brando durante a semi-eternidade que entendermos
gratinar o desagregado em fundo forno rubro, o instante variável de uma cópula
convidar um sûfi em período zuhd para o mais alto minarete da mais bela mesquita de burayada
servir em barro pálido filigranado de azul ao som do canto dos cameleiros alternado com a ópera dos gatos de rossini
beber com cicuta álgida, colheita de 55, diluída em absinto...