quarta-feira, dezembro 26, 2007

saliceta

Ainda sobre a medieva ponte da Ucanha, vista sobre moinho que o Varosa tange, a uma zagalotada da Salzeda
Ruelas semideiras por onde mal se lobriga a céu aberto. Vi-as em Lisboa, junto ao Castelo de São Jorge, cercanias do palácio dos Condes de Penafiel, excelentes para a defesa, eram labirintos entretecidos no âmago da urbe.
Os patins tão típicos da casa beiroa.
O adobe empalado sobre torsa de castanho milenar.
O frontal do casario recuado e anichado no granito protector.
Os janelos eram a estica-mão do vizinho.
De cantaria mais ufana e encimada por galhardo galarim.
Janela de cor e corte mais ousado.
Fina cantaria do varandim, decerto enxertia do cercado conventual.
Degrau em granito esmerilado a confronto com a rocha tosca e ruda da pareda quase meeira.
Homem de braço encruzado a duas mãos à parede s'ampara.
Esventrado núcleo da verça, à matriz das sepulcrais antas pré-históricas.
Casa de esculca ou d'atalaia aos agros.
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Notícia
No concelho de Tarouca há uma freguesia, a Salzeda, conhecida pelo seu convento esteiado pela Ordem de Cister (fundada em 1098 por Robert de Molesme) segundo a regra beneditina (São Bento, pax, ora, labora).
Há notícia escrita remontando ao século X de que aquelas terras seriam de Dona Tareja Afonso, filha do Conde Dom Afonso das Astúrias, mulher de Dom Egas Moniz, que as doou à Ordem.
Terras lavadas pelos rios Varosa e Torno, a Salzedas deve seu nome a Salicetas, por razão dos muitos salgueiros aí existentes.
Não está longe de São João de Tarouca (onde achou sepulcro o rico e letrado Dom Pedro, Conde de Barcelos, bastardo de Dom Diniz) e da Ucanha, terra que viu nascer o professor José Leite de Vasconcellos, emérito historiador e etnólogo. Entre ambas passa-se ao redor das Caves do notável espumante da Murganheira.
Por este intróito também saio do texto, pois apenas vos quero deixar as imagens que colhi dos restos da aldeia medieval que faceia o convento, num emaranhado de ruelas esconsas com arruinado casario em granito e/ou adobe, essa massa de barro cozida com palha e sustentada ou não por madeirame ripado, com janelos estreitíssimos ou varandas de fina cantaria a dizer abastanças de outrora. Bom passeio!