Poeta do norte
« É esta a vida do sonhador.
Melancolicamente ardente, desordenando os moinhos, a
desolação do norte»
José Agostinho Baptista
Todos os homens vêm do norte - disseste -
Todos reescrevem a sua morada.
Deve haver um trilho, um atalho para regressar
das várzeas de onde partimos
em longos meses torrenciais. Digo-te que nunca me saberei
despedir desta candura. Sou um órfão
que a idade furtou às searas - pai
Pai, teus olhos demasiado voltados para norte
Dentro do tempo todos os corações se tocam, eu sei
Mas não tenho voz para invocar o medo
ou as chuvas que nos coroaram.
Se liberto os dedos, balanças na sombra que se funde
na sombra, oh penha do nosso tormento
(chamas-me, e esta voz é quase o vento)
porque ainda durmo em teus pátios vazios.
Neste porto de não partir
Nenhuma vaga traz o retorno.
Recorda-me entre os lírios, pai
Recorda-me em teus vales
líricos.
Joana Aguiar
Melancolicamente ardente, desordenando os moinhos, a
desolação do norte»
José Agostinho Baptista
Todos os homens vêm do norte - disseste -
Todos reescrevem a sua morada.
Deve haver um trilho, um atalho para regressar
das várzeas de onde partimos
em longos meses torrenciais. Digo-te que nunca me saberei
despedir desta candura. Sou um órfão
que a idade furtou às searas - pai
Pai, teus olhos demasiado voltados para norte
Dentro do tempo todos os corações se tocam, eu sei
Mas não tenho voz para invocar o medo
ou as chuvas que nos coroaram.
Se liberto os dedos, balanças na sombra que se funde
na sombra, oh penha do nosso tormento
(chamas-me, e esta voz é quase o vento)
porque ainda durmo em teus pátios vazios.
Neste porto de não partir
Nenhuma vaga traz o retorno.
Recorda-me entre os lírios, pai
Recorda-me em teus vales
líricos.
Joana Aguiar
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