À memória do Pe. Sílvio Pinto do Amaral
in Cadernos de Literatura, do Centro de Litª Portª da Univ. de Coimbra, INIC, nº 25, de 1986, foram publicados os meus dois primeiros textos, pela mão cuidosa da Professora Andrée Crabbé Rocha, mulher do Dr. Adolfo Rocha, Miguel Torga.
Deixo este:
Efeméride
É tão triste recordar
Recorrer ao que de ti ficou
Em mim guardado
Para hoje lembrar um gesto
Amanhã uma palavra
Mais logo a imagem
Refeita dentro de mim
Inacabada
Acrescentada de detalhes
Que são e não são
Pertença de ti
E que te confiro na ausência
Da memória compensada
Pela imaginação do meu bem querer.
Não te vejo as rugas
Nem os cabelos brancos
Nem a dor em teus olhos escondida
Ao pé do medo.
Não vejo o mal que em ti crescia
Não ouço a tua respiração
Arquejante no fim
Não sinto a força da tua força em mim
No último aperto das mãos
Em que eu era vida
E tu já morte.
De ti lembro o teu sorriso tímido
As tuas conversas longas
O teu saber
Os passeios que demos
As histórias que contámos
Os silêncios que não feriam
Porque eram feitos
Da saciedade bem gozada
De quem diz tudo e nada guarda para dizer.
Lembro enfim a tua face serenada pela morte
E sereno fico ao crer-te em paz
Distante dos vivos que magoam quase tanto
Como a dor final que te arrancou à vida.
Vila Nova de Paiva, 12 de Julho de 1986.
Deixo este:
Efeméride
É tão triste recordar
Recorrer ao que de ti ficou
Em mim guardado
Para hoje lembrar um gesto
Amanhã uma palavra
Mais logo a imagem
Refeita dentro de mim
Inacabada
Acrescentada de detalhes
Que são e não são
Pertença de ti
E que te confiro na ausência
Da memória compensada
Pela imaginação do meu bem querer.
Não te vejo as rugas
Nem os cabelos brancos
Nem a dor em teus olhos escondida
Ao pé do medo.
Não vejo o mal que em ti crescia
Não ouço a tua respiração
Arquejante no fim
Não sinto a força da tua força em mim
No último aperto das mãos
Em que eu era vida
E tu já morte.
De ti lembro o teu sorriso tímido
As tuas conversas longas
O teu saber
Os passeios que demos
As histórias que contámos
Os silêncios que não feriam
Porque eram feitos
Da saciedade bem gozada
De quem diz tudo e nada guarda para dizer.
Lembro enfim a tua face serenada pela morte
E sereno fico ao crer-te em paz
Distante dos vivos que magoam quase tanto
Como a dor final que te arrancou à vida.
Vila Nova de Paiva, 12 de Julho de 1986.
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