Porque tardas, Primavera?

Nada mais que um frio que se entranha pelo corpo todo, descobrindo nos polares agasalhos frestas mais mal tapadas. O frio de invernos sem memória nos corpos mais alquebrados e mais atreitos à agressão. Um frio que nos deixa trôpegos e do rosto ao léu faz brotar lágrimas gordas de uma prodigalidade igual ao sentir que o corpo estranha e repudia. De repente, tudo se torna mais frio, e com este frio vem uma aversão a todo o exterior, fazendo-nos láparos em luras fundas, junto ao calor que a terra ainda guarda. Estas manhãs, na sua rotina de quase três mil dias a fio, tornam-se uma via sacra pelo espírito aceite e pelo corpo renegada, na sua lógica sabedoria de que não há pecadilho para tanta penitência...
<< Home