domingo, março 08, 2009

canto da cobra

-- Vens no ventre da cobra oculta.
Num sussurro ao do réptil leve, rasgas a terra em segredo, longe da penha onde o ar é frio, anil, e a fome dos milhafres tem hálito de lages.

-- Vens no ventre da cobra oculta.
Porque os incautos só ouvem o bramir do tigre, o retumbar das águas ensurdece-os, e o ar, de lágrimas aceso, bebe-lhes a luz, liberta chispas e desavem cômoros de seios.

-- Vens no ventre da cobra oculta.
Em desejos esmoída arfas o porvir. No trilho roças desejos. Almejas corpo de enliçar vigia, e no sono rendido à atalaia auguras-te frecha.

-- Vens no ventre da cobra oculta.
Mimosa te silvas taça com poção mal dada. E porque durmo, sou quase justo e sonho, sorvo-te do ventre a frescura da maçã.