Dicionário Khazar
(...) Tornámo-nos escribas itinerantes, carregando as nossas penas e os tinteiros através das águas e fronteiras dos reinos. Trabalhávamos cada vez menos para os conventos, e cada vez mais caligrafávamos livros em várias línguas. Além de copiar livros para os homens, pusemo-nos a copiá-los também para as mulheres, pois as histórias masculinas e femininas não podem ter o mesmo fim. Atrás de nós, deixámos planícies e rios (só levámos os seus nomes), olhares apodrecidos, brincos de aros com chaves nas orelhas, caminhos juncados de palha semeada pelos bicos dos pássaros, colheres de pau fumegantes e garfos feitos de colheres. (...)
Milorad Pavic, Pub. D. Quixote, 1990.
<< Home