Mensagem do Sr. Engº Aquilino Ribeiro
PREZADOS AMIGOS DA ESCOLA PROFISSIONAL DE SERNANCELHE
O Dr. Paulo Neto irá falar-vos da vida e da obra de Aquilino Ribeiro que nasceu no último quartel do século XIX no Concelho de Sernancelhe, há quase 124 anos. Que coisa tão remota, pensarão alguns de vós, desconfiados de que isso tenha algo a ver convosco, gente moderna, ensinada a olhar para o futuro e a sacudir as teias de aranha herdadas do passado. Todavia, se atentarmos no desdobrar do tempo, 124 anos não chegam a ser um piscar de olhos na história do mundo e, obviamente muito menos na recordação que os mais velhos ainda guardam da presença dos respectivos avós ou das tradições familiares que lhes trouxeram um reflexo esmaecido dos bisavós, tetravós e, por aí fora. Nos fins do século XIX e até um pouco mais além dos meados do Século XX, o ambiente, a luta pela subsistência das populações, o quadro físico e mental que determinava os seus costumes mantivera-se imutável e presumivelmente tão permanente, na respectiva fixidez, como nos séculos anteriores. Cada geração reproduzia a experiência das antecedentes e acrescentava gradualmente os saberes que ela própria ia adquirindo. Mas a partir de certa altura a aceleração histórica, devida aos progressos da técnica e do desenvolvimento económico, rompeu as cadeias consuetudinárias da transmissão dos saberes e o rápido afluxo dos novos conhecimentos veio, em boa parte, submergir o espaço ocupado pelos antigos. Com isso nasceu no inconsciente das pessoas uma certa tendência para minimizar o espólio recebido e sobrevalorizar tudo o que fosse novo. O culto da modernidade, até há pouco tão em voga, acentuaria o processo, que mais não fosse pela necessidade de sistematicamente se afirmar em oposição aos valores estabelecidos.
Todavia, mesmo que o ignore, cada um de nós é uma combinação de genes daqueles que o antecederam e a sua cultura provêm, em grande medida, da própria linguagem que pratica, que outra coisa não é senão um repositório da experiência das antigas gerações e da maneira como elas enfrentavam a condição da sua existência. Nesta enfiada continua há personalidades que se destacam como testemunhas privilegiadas da sua época as quais, para além de nos restituírem o quadro temporal em que viveram, nos apresentam a essência intemporal da alma humana, nos seus anseios, conflitos e dramas de sempre. Daí a perpétua actualidade do teatro grego de Sófocles ou das peças de Shakespeare tão distanciadas no tempo e tão perto do nosso quotidiano de homens do Século XXI. Aquilino Ribeiro é, neste entendimento, um escritor plenamente contemporâneo. Conhece-lo e estudá-lo contribuirá para usufruir o prazer estético da sua prosa e aprofundar o entendimento das raízes em que se firma a nossa identidade de portugueses, circunstância particularmente relevante nas terras beiroas de Sernancelhe onde teve o berço.
Melhor do que eu vos falará disto tudo o Dr. Paulo Neto, a quem a obra de Aquilino é mais do que familiar. Na divulgação do escritor, ciente de que assim poderá irradiar prazer e medrar a cultura dos outros, poucos haverá tão empenhados como ele. Nisso evoca-me aquelas personagens do Fahrenheit 451 de Truffaut, que em tempos adversos quando todos os livros eram sistematicamente queimados, se obrigavam a decorar o texto de um autor proscrito, para que os vindouros não perdessem o rasto de algumas das criações mais sublimes do génio humano. Pelo seu empenhado trabalho de preservação de uma memória que me é particularmente cara, me comprazo em tornar público o meu reconhecimento ao Dr. Paulo Neto, meu prezado amigo.
Aquilino Ribeiro Machado
O Dr. Paulo Neto irá falar-vos da vida e da obra de Aquilino Ribeiro que nasceu no último quartel do século XIX no Concelho de Sernancelhe, há quase 124 anos. Que coisa tão remota, pensarão alguns de vós, desconfiados de que isso tenha algo a ver convosco, gente moderna, ensinada a olhar para o futuro e a sacudir as teias de aranha herdadas do passado. Todavia, se atentarmos no desdobrar do tempo, 124 anos não chegam a ser um piscar de olhos na história do mundo e, obviamente muito menos na recordação que os mais velhos ainda guardam da presença dos respectivos avós ou das tradições familiares que lhes trouxeram um reflexo esmaecido dos bisavós, tetravós e, por aí fora. Nos fins do século XIX e até um pouco mais além dos meados do Século XX, o ambiente, a luta pela subsistência das populações, o quadro físico e mental que determinava os seus costumes mantivera-se imutável e presumivelmente tão permanente, na respectiva fixidez, como nos séculos anteriores. Cada geração reproduzia a experiência das antecedentes e acrescentava gradualmente os saberes que ela própria ia adquirindo. Mas a partir de certa altura a aceleração histórica, devida aos progressos da técnica e do desenvolvimento económico, rompeu as cadeias consuetudinárias da transmissão dos saberes e o rápido afluxo dos novos conhecimentos veio, em boa parte, submergir o espaço ocupado pelos antigos. Com isso nasceu no inconsciente das pessoas uma certa tendência para minimizar o espólio recebido e sobrevalorizar tudo o que fosse novo. O culto da modernidade, até há pouco tão em voga, acentuaria o processo, que mais não fosse pela necessidade de sistematicamente se afirmar em oposição aos valores estabelecidos.
Todavia, mesmo que o ignore, cada um de nós é uma combinação de genes daqueles que o antecederam e a sua cultura provêm, em grande medida, da própria linguagem que pratica, que outra coisa não é senão um repositório da experiência das antigas gerações e da maneira como elas enfrentavam a condição da sua existência. Nesta enfiada continua há personalidades que se destacam como testemunhas privilegiadas da sua época as quais, para além de nos restituírem o quadro temporal em que viveram, nos apresentam a essência intemporal da alma humana, nos seus anseios, conflitos e dramas de sempre. Daí a perpétua actualidade do teatro grego de Sófocles ou das peças de Shakespeare tão distanciadas no tempo e tão perto do nosso quotidiano de homens do Século XXI. Aquilino Ribeiro é, neste entendimento, um escritor plenamente contemporâneo. Conhece-lo e estudá-lo contribuirá para usufruir o prazer estético da sua prosa e aprofundar o entendimento das raízes em que se firma a nossa identidade de portugueses, circunstância particularmente relevante nas terras beiroas de Sernancelhe onde teve o berço.
Melhor do que eu vos falará disto tudo o Dr. Paulo Neto, a quem a obra de Aquilino é mais do que familiar. Na divulgação do escritor, ciente de que assim poderá irradiar prazer e medrar a cultura dos outros, poucos haverá tão empenhados como ele. Nisso evoca-me aquelas personagens do Fahrenheit 451 de Truffaut, que em tempos adversos quando todos os livros eram sistematicamente queimados, se obrigavam a decorar o texto de um autor proscrito, para que os vindouros não perdessem o rasto de algumas das criações mais sublimes do génio humano. Pelo seu empenhado trabalho de preservação de uma memória que me é particularmente cara, me comprazo em tornar público o meu reconhecimento ao Dr. Paulo Neto, meu prezado amigo.
Aquilino Ribeiro Machado
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