Aquilino Ribeiro - "Filhas de Babilónia"
Possuo várias edições de "Filhas de Babilónia", de Aquilino Ribeiro. Entre elas, a 1ª, de 1920, que avisa estar no prelo "Estrada de S. Tiago". Esta primicial edição compõe-se de 3 novelas: "Os olhos deslumbrados", com o sub-título "Caderno dum voluptuoso"; "Maga das Ruas" e "O Derradeiro Fauno".
Entretanto, esta última surge em 1926, transformada em romance, com o título "Andam Faunos pelos Bosques", anunciando no prelo "A Ilusão de Sempre", que nunca será publicada, pelo menos com este título. Já na 5ª edição, de 1925, "Filhas de Babilónia", se anuncia no prelo "Vozes Eternas", com o mesmo destino da anterior. Porém, se a dedicatória a João de Barros já vem completamente alterada, traz também um pós-facio, que mais não é que a crítica de Câmara Reis ao "Jardim das Tormentas" (1913), publicada in "Luta", de 11 de Abril de 1914, uma capa magnífica ilustrada por Stuart de Carvalhais e apenas duas novelas "Os olhos deslumbrados " e "Maga", sem sub-títulos nem acréscimos.
Na ed. de 1959, ade-lhe a novela "Frustração".
Sem ficarmos por aqui, é interessante ler o excipit da dedicatória da 1ª edição:
"Parte deste livro escrevia-a ha anos em Paris, a Babilónia, cuja taça d'ouro inebria toda a terra, como bradava e brada ainda do fundo dos seculos a voz irosa do profeta; a outra parte em Portugal, permitindo-me de acrescentar à Cartilha do abade de Salamonde a pagina velhissima, tão comum aos cultos submersos, duma moral complacente com as leis da vida. Daqui, por localisação e por alegoria, as Filhas da Babilónia (...)".
Mas não fico por aqui, e digo-vos mais o seguinte: Tenho na mão o nº 14 da revista "Atlântida, Mensário Artistico Literario e Social para Portugal e Brazil", dirigida por João de Barros, datado de 15 de Dezembro de 1915, que traz o conto "Caderno dum Libertino", escrito em Paris, em Novembro de 1913, que não é nem mais nem menos, que o esboceto de "Os Olhos Deslumbrados (Caderno dum voluptuoso)".
Os incipit's são, respectivamente, os seguintes:
"Numa tarde de inverno, encontrava-me, por uma destas coacções imprevistas e estúpidas do destino, na estação de Freixeneda, morrinhenta e agreste como sala de lobos (...)" e
"Em caminho de ferro, através da chã pasmada de Castela-a-Velha. Tôdas as tristezas de princípio de inverno, do entardecer e do deserto, entraram para a carruagem, tomaram os lugares vazios, penduraram-se aos espaldares e ao nosso pescoço. Quase que se podem palpar; tem corporeidade de viajantas (...)" - Mantive a grafia da época.
Uma forçosamente curta reflexão, aqui e daqui se pode tirar acerca da forma de construir o texto em Aquilino e ainda, do modo de dar forma à publicação final, frequentemente alterada, como é o caso do conto "Valeroso Milagre", in "Jardim das Tormentas", que, e pelo menos, aparece, sucessivamente, em 4 (quatro) versões distintas. Ou seja, para Aquilino, a insatisfação e a porfiada depuração dos textos era uma realidade, ignorando a praxis da edição ne varietur.
Mas esta faceta, é apenas uma das milhentas que o Mestre comporta e faz do seu processo criativo um longo, apaixonado e fascinante calvário do estudioso e do bibliófilo aquiliniano.
Deixo-vos, como ilustração, um "bonecro" meu inspirado na capa supra citada, de Stuart de Carvalhais.
Que estão à espera: Leiam Aquilino, pela Vossa rica saúde!
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