domingo, julho 11, 2010

A Torre de Alcofra e os meus peregrinos passeios dominicais

Hoje, pelo meio da manhã, alei sem rumo. A25 com muito sol, saí em Cambres e descobri um restaurante "novo" para experimentar: "Mira-Serras", ápodo pouco original, construção descaracterizada, fui à experiência. Em boa hora. Sala de amesandação escaiolada, sem pretensões, ar condicionado, toalhas e guardanapos em tecido amarelo suave. Casa vazia. A simpática empregada, mal começou a desfolhar, de boca, o cardápio, logo cerce a quedei no Cozido à Portuguesa: "Uma dose", requeri. Olhou-me de alto a baixo e retorquiu: "Meia e há-de sobrar!". Nem zus nem bus, assim me deixei. Levava o Julio Cortazar (em livro!) para me entreter, mas pouco li, pois a travessa ali se apresentava, ancha e fumegante, de três apitos. A couve, a cenoura, o nabo e as batatas eram, decerto, da horta, pelo seu apurado sabor. O galinácio, da capoeira. A vitela, de Lafões e o porco até podia ser da Lapónia, que eu já não me incomodava. Os enchidos é que eram do tipo espanhol... Uma água, um sobremesa muito doce e um café (com adoçante!): 10,20 Euros. Entretanto, as duas salas do restaurante encheram. Famílias inteiras, velhos e novos, gente da terra, que não havia muito carro à porta. Interessante, para análise sociológica...
Segui Caramulo acima. Parei em Cabo da Vila a visitar a Torre de Alcofra. Uma surpresa agradável. Bem conservada e limpa, ergue-se imponente no meio da aldeia. Construída no século XIV, tem gravado, em 3 das suas 4 alas, as inicias: AMBDM = António Magalhães, Barão de Moçâmedes, que a mandou erguer. Diz a lenda que tinha um túnel até ao Monte Gralheiro, onde se acoitavam soldados cristãos em pugna com os agarenos. Vale o que vale, mas como as lendas dão beleza e mística à realidade, aceita-se, pois, como boa! A meio corpo abre porta de arco redondo e duas janelas nas alas extremas, uma em arco quebrado. Pena não se visitar adentro.

Depois, com a canícula a estiolar o toutiço, ala ao Caramulo. A estrada está com piso novo e é muito umbrosa, à antiga. Vamos por um corredor coberto e fresco. As curvas são uma delícia para veículo rápido e de chassis aprumado. Lá chegado, depois de subir a "rampa" até ao miradoiro e de me deleitar com todo o vale de Besteiros e Tondela, descida ao hotel, para, no bar, de característico chão em xisto preto, tomar mais uma "biquinha". Descida por Santiago de Besteiros. Quando dei comigo, por fortuita olhadela ao retrovisor, vi-me de sorriso às escâncaras, ouvindo "Il Trovatore", de Verdi, e fazendo aquelas curvas a desafiar a força centrífuga, num chiadeiro, que só as vozes de Leonora (Maria Carena) e de Azucena (Irene Minghini) contrariavam...
Pouco mais de 20 léguas rodadas, estava de novo em Viseu. Um agradável passeio, na belíssima companhia de mim próprio! Recomenda-se... (O passeio, claro!)
Uma onomatopaica gárrula ou gárgula, no chão, longe das alturas do telhado, onde foi, outrora, caleiro gorgolejante das bençãos celestes...