domingo, fevereiro 18, 2007

Canción de Dom Rocinante, el caballo fantástico de Dom Alonso Quijano



Castela de sol ardente e gretado solo ardido
Será loucura ruminar em água fria e verde pasto?
Doloroso afago d’esporim sentido
Sol que faz heróis e estiola o duro casco…

Ah rocinante, ginete de cavaleiro andante
Surdo ao zurrar bronco do asno companheiro
Atento às cortesias deste doudo demandante
Matuto neste embalo d’osso em chouto levadeiro

Alonso Quijano não leias mais; de frente Aldonza Lorenzo mira
E naquele moinho mais branco cerca-a tal gigante
E corre após, com ela engrinaldada, a Dom Gaifeiros acudir à ira
Sombreando-me… que a canícula m’adormece arfante

Estóico sou eu, ai quão estóico!
Alonso o generoso é só bom e Dom, Nosso Senhor
Louco nos libertará jamais peitando o gesto heróico
Além há uma cruz… mira la cruz Alonso… que fulgor…

O Calvário deste sonho visionário cessará
Deste encanto que em lamento se ordena extravagante
E afrontoso do desastre que ao desastre enfrentará
Tanta mágoa qual demanda em liberdade busca impante

Ah rocinante, ginete de cavaleiro andante
No exílio a erva será verde, a terra morna e eu livre enfim
De lamber mil ferimentos e codilhar farfante
Recolhido tu na torre escura dos cavaleiros-poetas-delfim

E aí o tomará Aldonza, a las cinco de la tarde, em seus braços de Dulcineia
(Pietá que exalta a las cinco de la tarde o lamento quixotesco cessante
Do homem livre, a las cinco de la tarde, da alma livre, do livre ilimitado, da ardente veia…)
Ah rocinante, a las cinco de la tarde, ginete de cavaleiro andante

Chocalha-me tal e tanta lataria deste vivo ideal
Que transporto em tanta dor
Meu Senhor Nosso Senhor

“não repare vossa mercê em ninharias, senhor Dom Quixote, nem aperte tanto a cravelha que estoira a corda! Representam-se para aí todos os dias comédias recheadas de absurdos e baboseiras e ninguém lhes vai à mão. Pelo contrário, fartam-se de receber aplausos, vento em popa!”

Sancho tolo, Santo pança que nunca leste um livro, nem a Tormes foste vivo
E és conselheiro dos que afrontam o rei
Oh que corte tão leal sem grei!

Dom Quixote e Sancho Pança, Rocinante e bronco Asno andante
Trupe luminosa ao sol cegante de Castela
Bolinando, nos olhos ocos dos bufões de vento em popa, a vela!