domingo, março 11, 2007

Pela manhã...


Vejo-as que voam no meu olhar
Os mágicos seres das manhãs estivais
Que pousam em mim como teus sinais


Borboletas nas flores, sedentas de amores
Crisálidas abertas nos corpos ascetas
São marcas a sépia da memória que cessa
Se o corpo apetece e a noite enlouquece


Então...Vem um navio cruzando a pele acesa
No dorso de barro moldado nos dedos
Nos membros serenos outeiros de segredos
Ancoragem doce na foz dos meus seios
Nas ancas de enleios nos confins do beijo
Noites de veludo num luar de anseio
Hastes que se erguem, efémeras asas
De silêncio e pólen e seiva de sémen


Desfeitas as roupas nas tuas mãos cegas
Ávidas rosas que em si se consomem
Pólen dos corpos a saber a mosto


E um mar que cresce e a maré que avança
Para o voo maior da vaga que dança
E alaga de espuma a úbere caverna
Onde nada a vida e o tempo descansa
E uma ébria borboleta sai de nós nutrida
E pela madrugada lança-se veloz
Sobre o nosso leito de ímpios amantes

Depois...
Serenos partimos neste rio urgente
Navegas para a foz e eu a montante
Como as borboletas no voo de um instante...
poema de Ana Pontes