domingo, abril 22, 2007

algures entre a arada e o montemuro


As paisagens são roubadas do céu das águias.
Os caminhos, estreitíssimos, em terra batida ou areão sobre alcatrão, ladeiam-se de precipícios de centenas de metros (muitíssimo impróprios para os carros que conduzimos, que se atravessam inesperadamente cada vez que se acelera um pouco mais...).
Os montes sucedem-se, regulares e nus. As zonas verdes rebentam da ardida terra. O xisto tem ali casa posta.
Em baixo, muito em baixo, corre o Paiva remansado (o rio menos poluído da Europa).
A toponímia dá-nos palavras como Parada de Ester, Ermida, Cabril, Trancoso de Alvarenga, Canelas, Arouca, Moldes, Janarde, Coveló de Paivó (em Vila Nova de Paiva existe um Covelo de Paiva), São Macário, Aldeia da Pena, Gafanhão, Reriz...
As aldeias, perdidas a esmo no meio da serra, têm homens crestados unidos em rebanho (ou alcateia) à porta da taberna, copo de tinto na mão. Vêem-nos passar com um ar indiferente como se estivessem à beira de uma via rápida, e somos, talvez, os únicos veículos da semana...
O cheiro, ácido, a mijo da de ovelha, toma-nos as narinas, de súbito e distrai-nos do odor a rosmaninho que nos assola.
É o Portugal profundo. Alheado de tudo que não sejam as leviandades do tempo, o preço dos adubos, da madeira de eucalipto e do anho à peça.