exorcismo antigo
evita as margens quando subires o rio.
guarda as paragens para a descida.
vigia o sulco das águas e tenta ler a limpidez.
não respondas aos acenos dos lírios nem te distraias com as cotovias dos abetos.
vigia o sulco das águas até emergirem os seixos e te saudarem as trutas de dorso salpicado de vermelho.
aí terás chegado às águas frias da montanha e a quilha quedar-se-á fundo no leito.
segue o sussurro da água a pé descalço e desfolha-lhe as pétalas da rosa branca.
sete vezes cantará o faisão e de entre um estreito buraco na terra vermelha, por entre xistos ocres escorrerá a poção.
bebe-a com lentidão, pelo côncavo da mão direita.
saciadas sedes do caminho, asperge-te nos quatro cantos do corpo.
deita-te sobre a terra e comunga a água regatada.
então, sem pressa, inicia o caminho inverso.
o da penitência.
e delonga-te, colhe das margens e das ilhas todo o tempo que puderes.
semeia-o nas águas e no sulco das águas.
engana-o com toda a força da paixão.
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