quinta-feira, junho 28, 2007

morrinhenta, a aurora...

O mar hoje
Que tem e lhe faltasse ontem?
Os meus olhos de ver diferentes
Que têm hoje e lhes faltasse ontem?
A tua ausência na terra lavrada dos meus passos.

O mar hoje
É cimento
A escorrer babas de betão
De um cinza baço e sujo
Ganidor mais que a ronca nevoenta.

O mar hoje
É a minha ira fria
Os meus olhos que azul ficaram aço
A mão que te afagou
Que punirei numa fogueira.

O mar hoje
É o colosso que rouba a terra
E lhe devolve esferovite esfarelada
Paus secos rolhas bóias
Redes velhas peixes mortos.

O mar hoje
És tu
E um farol rouco
Velho e cansado
De uivar lamentos.

O mar hoje
É uma gaivota penada
Uma traineira podre
Um vagabundo nas dunas
Cacos da mensagem que não chegou.

O mar hoje
É um sol vestido de puta
Uma concha quebrada
Um molhe viscoso
A areia peganhenta nos meus pés.

O mar hoje
Sou eu.
Ontem éramos nós
Amanhã ninguém
Depois de amanhã não existe (s).