colaboração da ana
Regressei à minha casa, a tua casa, a nossa casa. Encontras-me lá. Trago-te agora um beijo a brotar na voz, meu amor, agora que acabei de vencer o tempo e o mundo no jogo da demora. Selei o mundo, e ficámos só nós lá dentro. Quero calar o frio do teu corpo com o meu. Venho por ti e pela tua palavra. Deixo a minha semeada no deserto onde não se reproduz se não a pastares com os teus olhos. Queria que a minha nudez encontrasse a tua e que o meu corpo fosse frio e refrigério, calor e tempero do teu. Queria tanto encostar-me no teu peito e ficar a ouvir a noite... Olha como nós dois, poetas e namorados, haveríamos de inventar mil e um ruídos e risos na noite das estrelas. Como elas debruçadas sobre os nossos corpos nos adornavam como um friso de mil velas... Tudo se passaria sem tempo, apenas saberíamos que passava, pela cadência do amor. Meu querido, prende-me a ti a voz antiga que falávamos, uma voz onírica e corpórea onde o mundo nos soçobrava ao lado do travesseiro. As noites de mutilada ausência ficaram em destroços esquecidos pelo caminho. Fico tantas vezes presa do mundo e fujo tanto ao mundo para ficar presa de ti, busco nesta prisão a essência do teu corpo e o mais puro vinho do amor. Deixar-me entrar em ti, fechar os olhos e progredir dentro. Aprender-me em ti como se aprende a pele incubada que nos reúne no centro de um progressivo desejo. Meu amor, queria poder saber-te por fora como te sei por dentro. Querido, querido, adornas-me a vontade, está uma noite fresca dentro da minha boca, o meu corpo respira o teu, façamos da noite o nosso íntimo deserto, a casa onde todo o pudor se perdeu. Que importa se te pareço despropositada se é isto que me apetece dizer-te?
ana/sonho-te/
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