Se
se às vezes me enfeitasses de algas e feridas marinhas
se ao menos às vezes me percorresses na vasta maresia
se tanto me fosses fiel na fina fímbria do desejo
ah, meu amor, tudo de mim terias se mais ter de mim
fosse teu desejo
sou apenas uma presença na irisada lâmina da noite
cravaste em mim o teu busto e a tua fronte de cetim
e eu busco a renovação da tua pele que tantas vezes
se desfaz sem mim...
às vezes gostava de fechar a porta à noite,
permanecer agachada no fundo sereno de mim
não existo muito quando me ponho assim
apenas penso, e protesto a fuga que declino
regresso-te com o desejo na boca e o luar solto
sou frio e quero o teu calor mas sou também corpo
e há uma entrega que sempre fica guardada
num mistério de silêncio arguto e purpurino
se às vezes me atirasses para um pomar maduro
e a minha boca sumarenta te fizesse meu fruto
se às vezes pudéssemos saciar a sede sem futuro
mas não tenho o direito de acorrentar-te ao lugar distante
não posso permanecer no teu futuro tanto tempo
se o teu futuro é um lago onde não pertenço
também eu quero que vivas sem me viver por dentro
que ames a vida mais do que me possas ter amado
no nosso mais íntimo momento
nada desfolhará o que te guardo em flor no meu peito
abro-te todos os dias no livro da manhã e leio-te o olhar
pouco te vejo, mas pressinto nas flores o orvalho outonal
ou a rega inesperada de uma chuva de setembro
meu amor, nunca perceberás a delicadeza do meu desejo
toco a tua alma solenemente com o pudor dos anjos
aceito no meu o teu corpo com a tentação dos demónios
e entre o céu e as entranhas vulcânicas da terra
não sei meu amor que mais o meu sangue acelera
se o saber-te longe entre os lírios astrais
se o ter-te tão dentro da orla dos meus lençóis...
mas não podemos demorar o futuro sem o matarmos
se quiseres serei carrasco ou anjo peregrino
e levarei devagar para o rio Letes este teu modo felino
de me fazer harpa e violoncelo em palavras
de fascínios
se quiseres afogo o meu nome devagarinho
já fui tantas imagens no espelho do tempo
agora sou só eu e tenho-te aqui comigo
sem ter mais de quem fugir ou quem matar
se quiseres estendo o sonho num tapete
e afagando a lâmpada do teu olhar de Aladino
apagamos a poesia deste tempo sem arte
para voltarmos juntos a ser meninos ou
secretos amantes ingénuos e clandestinos...
ANA
se ao menos às vezes me percorresses na vasta maresia
se tanto me fosses fiel na fina fímbria do desejo
ah, meu amor, tudo de mim terias se mais ter de mim
fosse teu desejo
sou apenas uma presença na irisada lâmina da noite
cravaste em mim o teu busto e a tua fronte de cetim
e eu busco a renovação da tua pele que tantas vezes
se desfaz sem mim...
às vezes gostava de fechar a porta à noite,
permanecer agachada no fundo sereno de mim
não existo muito quando me ponho assim
apenas penso, e protesto a fuga que declino
regresso-te com o desejo na boca e o luar solto
sou frio e quero o teu calor mas sou também corpo
e há uma entrega que sempre fica guardada
num mistério de silêncio arguto e purpurino
se às vezes me atirasses para um pomar maduro
e a minha boca sumarenta te fizesse meu fruto
se às vezes pudéssemos saciar a sede sem futuro
mas não tenho o direito de acorrentar-te ao lugar distante
não posso permanecer no teu futuro tanto tempo
se o teu futuro é um lago onde não pertenço
também eu quero que vivas sem me viver por dentro
que ames a vida mais do que me possas ter amado
no nosso mais íntimo momento
nada desfolhará o que te guardo em flor no meu peito
abro-te todos os dias no livro da manhã e leio-te o olhar
pouco te vejo, mas pressinto nas flores o orvalho outonal
ou a rega inesperada de uma chuva de setembro
meu amor, nunca perceberás a delicadeza do meu desejo
toco a tua alma solenemente com o pudor dos anjos
aceito no meu o teu corpo com a tentação dos demónios
e entre o céu e as entranhas vulcânicas da terra
não sei meu amor que mais o meu sangue acelera
se o saber-te longe entre os lírios astrais
se o ter-te tão dentro da orla dos meus lençóis...
mas não podemos demorar o futuro sem o matarmos
se quiseres serei carrasco ou anjo peregrino
e levarei devagar para o rio Letes este teu modo felino
de me fazer harpa e violoncelo em palavras
de fascínios
se quiseres afogo o meu nome devagarinho
já fui tantas imagens no espelho do tempo
agora sou só eu e tenho-te aqui comigo
sem ter mais de quem fugir ou quem matar
se quiseres estendo o sonho num tapete
e afagando a lâmpada do teu olhar de Aladino
apagamos a poesia deste tempo sem arte
para voltarmos juntos a ser meninos ou
secretos amantes ingénuos e clandestinos...
ANA
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