sábado, janeiro 05, 2008

e.e. cummings

a 'nossa' alice postou um excelente audio com este texto em inglês, eu deixei um comentário com a sua sábia tradução de Jorge Fazenda Lourenço... depois, achei, também, que ficava bem no brevitas... no problem! alice?

algures aonde eu nunca viajei, alegremente além de
qualquer experiência, os teus olhos têm o teu silêncio:
no teu gesto mais frouxo há coisas que me prendem,
ou que eu não posso tocar de tão próximas que estão

o teu mínimo olhar há-de facilmente desprender-me
embora eu me tenha cerrado como dedos,
tu sempre me abres pétala a pétala como abre a Primavera
(tocando hábil, misteriosamente) a primeira rosa

mas se teu desejo for encerrar-me, eu e
minha vida fecharemos em beleza, de repente,
como quando o coração desta flor imagina
a neve em tudo cuidadosa descendo;

nada do que existe para ser sentido neste mundo iguala
o poder da tua extrema fragilidade: cuja textura
me submete com a cor dos seus domínios,
representando a morte e para sempre em cada alento

(eu não sei o que é que há em ti que fecha
e abre; apenas alguma coisa em mim entende
a voz dos teus olhos mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva, tem tão finas mãos

e.e. cummings
xix poemas - Assírio & Alvim, 98