sábado, janeiro 19, 2008

José Régio, in "Cântico Negro", Sarça Ardente,, ed. quasi

(...)
5.
Entrei profundas grutas tenebrosas
Onde os anos e os séculos pararam.
Chão que nunca viu sol nem sonhou rosas,
Os meus lábios gretados o afloraram.
Colado o ouvido às pedras alterosas
E aos terríveis silêncios que pesaram,
Quis ir tentar sentir arfar teu peito,
Mãe Terra!, meu primeiro e último leito.
6.
Cerradas selvas onde eternamente
Cai noite, a noite cai da ramaria,
Quer nela esgarce a Lua o véu nitente
Quer filtre o Sol longínqua luz, e fria,
Tremi do vosso verde sangue ardente
Cachoando, como no primeiro dia,
Através de covis e labirintos
Palpitantes de seivas e de instintos...
(...)