quarta-feira, junho 04, 2008

Para uma teoria da concepção literária em Aquilino



Já nos havíamos confrontado com situações análogas referentes a outras obras do Mestre do Carregal e Soutosa. Desta vez, na revista Atlantida (direcção de João de Barros e João do Rio) de 15 de Janeiro de 1916 deparámos com o conto A adolescencia mystica de Liborio Patarôxa, que é um esquisso do romance que vai ser publicado em 1918 (dois anos mais tarde) A Via Sinuosa, do qual possuímos a 1ª ed., a 3ª de 1922 e uma outra 3ª com capa de Stuart Carvalhais (o que levanta outro problema ao qual nos referiremos adiante).
A modos que numa experimentação, AR desenhava a diegese de alguns dos seus romances em short storys que ia publicando em revistas da época. Deste modo, auscultava também opiniões diversas. Mais tarde, no momento mais oportuno, dava alongada forma à intriga e produzia assim mais uma das suas obras primas. Este processo de maturação demonstra, que mais não seja, a ausência de repentismos oriundos de inspirações súbitas, ademais demonstrando que a congeminação, em Aquilino, era mais feita, também à moda torguiana, de ferreiro a aquecer a indómita palavra na forja quente da paixão, dela, e de muito a martelar com vigor, extraindo o período, o parágrafo, o capítulo... assim, bem esculpido e a suor de sentimento temperado, sem a espontânea criação que a tantos assistiu e a outros, tais Flauberts, só era surgida por titânico labor, caldeado na busca do perfeccionismo.
Deixamos aqui a incipiência deste tema, prometendo-lhe mais lata abordagem no provir.
O outro assunto prende-se com a dificuldade que um bibliófilo aquiliniano encontra, pois é tal a profusão de edições, simples e especiais, assinadas e numeradas, ilustradas (já lhe contámos 33 diferentes ilustradores), comemorativas..., que o deleite, por vezes, degenera num impotente pesadelo (outras num prazer renovado!). Quando cremos ter tudo, surge-nos algo novo, que nem no catálogo da Biblioteca Nacional consta (aquilino ribeiro, BN., Catálogo 16, 1985). Aliás, uma vez em conversa com seu filho, o Senhor engº Aquilino Ribeiro Machado, questionando-o sobre a mais exaustiva lista de obras de seu pai, remeteu-nos exactamente para este op. citado catálogo, que hoje temos fundamentos para achar incompleto, além de naturalmente inacabado, também face ao saído na sincronia que medeia entre a data de sua edição, 1985 e a actualidade, ou seja, 23 anos. Nomeadamente, no que concerne à bibliografia passiva.