domingo, setembro 07, 2008

A polimorfia da serrania

antropomórfica?
erosão vertical?
o golfinho e a cria?
o sapo dorminhoco?
umpétreo tête-à-tête harmonioso?
ninho ou covil?
(...)
a lenda diz ainda:
"uma vez um homem traçou do bordão e partiu a correr as sete partidas do mundo; andou, andou até que foi dar a comarca cujos naturais comiam calhaus e ladravam como cães". Circunscrito, é intuitivo, a indivíduos rudes, teve este trabalho pintar dessas aldeias montesinhas que moram nos picotos da Beira, olham a Estrêla, o Caramulo, a cernelha do Douro e, a norte, lhes parece gamela emborcada o Monte-Marão. O vale, que as explora, trata-as despicientemente por Terras do Demo. Sem dúvida, nunca Cristo ali rompeu as sandálias, passou el-rei a caçar ou os apóstolos da Igualdade em propaganda. Bárbaras e agrestes, mercê apenas do seu individualismo se teem mantido, sem perdas nem lucros, à margem da civilização.
Escrevia Aquilino no prefácio a Carlos Malheira Dias in Terras do Demo, 1919.

Falecido em 1963, não teve a dita de calcorrear as "novas" Terras do Demo, pela mão do homem de hoje, outrora bárbaro e agreste, tornadas pólos difusores de cultura e bem-estar.
Ontem, na Capital das Terras do Demo, decorreu o, pelos concorrentes apodado, Concurso de Guitarra Clássica de dimensões mundiais, só superado pelo da Rainha Sofia, em Madrid e o de Viena de Áustria.
Refere ainda, in Abóboras no Telhado, 1955, pág. 74:
As Terras do Demo fizeram escola. Na sua esteira, surgiram cultores do vasto quadrante literário. Desde esse dia, os bons campónios, vítimas do anátema divino ou da injustiça social, cândidos ou apenas dionisíacos nas horas vagas, a estalar de felícia e lirismo, entraram na história consagrados como quem são: escravos da terra ou dos terra-tenentes, minados de preconceitos e taras como todos os mortais que se prezam, e, aqui para nós, mais propensos ao mal que ao bem. Também deixaram de aparecer anjos no meio dos calondros, que eles costumam regar com pragas e o suor do rosto. O melhor galardão que o meu livro teve foi que desse o nome à corda de povos romanceados. Não só para as demais terras do Districto, mas para as de longe, aqueles lugares, incrustados na Serra da Nave, passaram a ser as terras do Demo.
São-no de facto? Suponho que sim, tanto pelo agreste do meio como pela vitalidade furiosa dos habitantes.