segunda-feira, dezembro 01, 2008

A solidão

"Um jornalista filantropo diz-me que a solidão é má para os homens; e em abono da sua tese, cita como todos os incrédulos, palavras dos Padres da Igreja.
Eu sei que o Demónio frequenta de bom grado os lugares áridos, e que o espírito de assassínio e de lubricidade se inflama maravilhosamente nas solidões. Mas é possível que esta solidão seja apenas perigosa para a alma ociosa e divagante que a povoa com as suas paixões e as suas quimeras.
(...)
"Essa grande infelicidade de não poder estar só!..." -- diz algures La Bruyère, com que para envergonhar todos aqueles que correm a esquecer-se na multidão, temendo por certo não se poderem suportar a si mesmos.
"Quase todas as nossas infelicidades nos vêm de não termos sabido ficar no nosso quarto", diz outro sábio, Pascal, creio, evocando assim na cela do recolhimento todos aqueles tresloucados que procuram a felicidade no movimento e numa prostituição que eu poderia chamar fraternitária, se quisesse falar a bela linguagem do meu século."
Baudelaire, C. - O Spleen de Paris, ed. Biblioteca editores Independente, 2007
(a 6,5 euros!)