segunda-feira, janeiro 19, 2009

Palavras de apresentação da "aquilino"


MINHAS SENHORAS E MEUS SENHORES:


“Não obedeço (…) a fórmulas. Tenho por um dogma que não entram nos reinos de Minerva nem escravos, nem macaqueadores, nem plagiadores. Em arte, felizes os rebeldes, porque eles verão a luz.
Cultivemos as letras sem sujeições de nenhuma ordem (…) livres, revoltados, sem contemplações para ninguém e honradinhos.”

Aquilino Ribeiro, quando tal escreve em Abóboras no Telhado (1955), deu-nos o ideal mote para a linha mestra do que hoje Vos apresentamos.


Não é exclusivo apanágio das civilizações Ocidentais a celebração do nascimento. Um pouco por toda a parte, universalmente, e salvo raras excepções, é com júbilo que se acolhe o nascituro.
Também aqui, neste convivial e fraterno encontro, nos presentificámos para dar as boas vindas e acolher um nascimento, o da Revista Literária da Câmara Municipal de Sernancelhe, de seu exemplar nome de baptismo “aquilino”.
Este projecto, hoje concretizado, teve origem no relevo pela Autarquia concedido à Cultura, e por consequência e coerência, num convite do seu Presidente, que nos foi amavelmente endereçado e imediatamente acolhido com entusiasmo e disponibilidade.
Criar uma publicação periódica e de temática aquiliniana foi o seu objectivo primeiro.
Homenagear o escritor e seu axis mundi, o objectivo seguinte.
Estabelecer um denominador comum em torno destes vectores para centripetar vontades para o efeito, o objectivo final.

A 27 de Junho, aquando da memorável visita do Senhor Engº Aquilino Ribeiro Machado e sua ilustre Família, cimentou-se a ideia.
No decurso de Setembro e Outubro, rogou-se a colaboração àqueles que sobre a matéria têm voz.
O primeiro a dizer presente, na dinâmica de amável e finíssima sapiência a que nos habituou e lhe está inerente, foi o Senhor Engº Aquilino.
Seguiram-se-lhe o emérito escritor e docente universitário, vulto superior das Letras Portuguesas, professor Urbano Tavares Rodrigues; a reconhecida investigadora e estudiosa aquiliniana, professora Serafina Martins, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; o professor António Manuel Ferreira, coordenador do departamento de Línguas e Cultura da Universidade de Aveiro, que neste momento, lecciona aos seus discentes, “Aquilino Ribeiro”, orienta um mestrado e ainda um doutoramento sobre esta temática.
Também da Universidade de Mogi das Cruzes, em São Paulo, veio lesto o contributo do professor José Rodrigues Filho.
Pela pena do investigador dr. Fernando Paulo Baptista, chegou-nos ensaio.
De um jovem estudioso da vizinha Moimenta da Beira, dr. Jaime Gouveia, bolseiro no Instituto de Florença, a imediata anuência.
Idem do dr. Miguel Alves, director do Estabelecimento Prisional de Viseu, com quem há muito partilhamos projectos, que não espaços – Deo Gratia!
O mesmo da parte do dr. Martim de Gouveia e Sousa, director da revista de arte e crítica de Viseu, Ave Azul, com quem, também, porfiámos cumplicidades.
O dr. Jerónimo Costa, Regedor cessante da Confraria Aquiliniana, com quem colaborámos no projecto Letras Aquilinianas, enquanto vice-director da publicação, logo acedeu a estar connosco.
O co-mentor deste projecto, o vice-presidente da Autarquia e vereador do pelouro da Cultura, dr. Carlos Silva Santiago, coincidentemente oriundo do Carregal, deixou seu vívido testemunho e de seus familiares que ainda conheceram tenuemente este mais que todos dilecto filho do Concelho. Além disso, foi a ponte necessária e sempre presente para promover sinergias.
Finalmente, o dr. José Mário Cardoso – amigo pessoal de há trinta e cinco anos, que muito respeitamos e admiramos, enquanto Homem e Autarca, deixou-nos a palavra e o ânimo com o seu sempre incondicional apoio.
Os pintores viseenses, Pedro Albuquerque e Braga da Costa, como é de seu timbre – e honra por isso lhes seja sempre feita – disseram presente e com sua genialidade artística, deram brilho a estas páginas.
O dr. Paulo Pinto prontificou imagens do Concelho; o sr. Padre Amorim, Reitor do Colégio e Santuário da Lapa, cedeu a inédita fotografia da contracapa…

Durante os meses de Novembro e Dezembro compusemos o material compulsado, num labor doméstico, que não visando minimizar quaisquer falhas, apela à Vª superior generosidade e tolerância no relevar de imperfeições.
E recorra-se a Cruz Malpique, que escreve com sábio a propósito no pós-facio da obra “Aquilino, O Homem e o Escritor” (1964):
(…) “Se o leitor, argos de cem olhos para a frente e outros tantos para trás, tiver surpreendido alguns dos inevitáveis erros (…) seja indulgente e… inteligente. Isso lhe será levado em conta na remissão dos pecados, se é que no seu pomar existe dessa fruta…”

No fim de Dezembro, a “aquilino” deu entrada na Cartolito, onde encontrámos excelente cooperação, e hoje, dia 17 de Janeiro, aqui, neste seu mais que todos adequado e dourado berço, se dá a conhecer e se entrega em Vossas mãos, primeiríssimos e mais que merecedores destinatários da obra.
Não cumprem aqui referências Editoriais nem suas linhas mestras, que encontrarão explicitadas no seu conteúdo. Compete apenas dizer que esta publicação é anual, tem uma primeira tiragem de mil exemplares, será enviada para centenas de instituições culturais de Portugal e algumas do estrangeiro e brevemente disponibilizada na rede de 17 lojas da Fnac.

Assim, a recém-nascida se apresenta, aqui e agora, em seus traços genéricos.
Com tão influentes e bons padrinhos ademais os bons, fresquinhos e puros ares de Sernancelhe, tem todos os auspiciosos motivos para se fazer à vida, rija, sã e escorreita.
No modelar exemplo de seu patrono!
Minhas Senhoras e meus senhores, a Vós e ao Vosso superior espírito crítico, a estas andanças mais que todos habituados, cumpre dizer se atingimos o desiderato proposto…
Se colhermos aquiescência, tendo da Autarquia a suficiente abertura, carecemos somente da Vª porfia, e de futuras novas participações e sugestões, que serão sempre acolhidas com a mais veemente gratidão.

Uma palavra também a quantos vieram de fora.
A Vª presença é sobejo motivo para percebermos que Aquilino, universal e intemporal é um factor de coesão cada vez maior de todos quantos às letras são dados. E percebermos mais nitidamente, que esta dinâmica em torno da sua obra, primicialmente inaugurada há 96 anos, é procissão da Senhora da Lapa que ainda agora vai no adro, e muita festiva volta tem a dar.
A Vª presença significa, também, o prestígio que concedeis e reconheceis a Sernancelhe e à sua autarquia, diligente anfitriã sem créditos por mãos alheias, com olhar para lá da Nave e do Marão, e acolhedores braços abertos a quantos, como hoje, a honraram dizendo PRESENTE!

Quanto aos sernancelhenses que aqui se encontram, não curo em lhes agradecer, pois mal me ficaria.
Sei que não vieram por mera curiosidade, antes como anfitriões, com sua cortesia beiroa, bem acolher a sua nova publicação camarária, que traz de título orgulho de há muito sentido.

À dra. Isabel Moura que, a nosso pedido, logo anuiu em vir ler-vos um extracto de “O Livro do Menino Deus” e aos virtuosos acordionistas, professores Horácio e Ilídio da Academia de Música de Sernancelhe…
A Todos… o nosso tão sentido quanto modesto agradecimento.

Paulo Neto
Sernancelhe, 17 de Janeiro de 2009.