terça-feira, fevereiro 17, 2009

as palavras que dizem amor

As palavras são voláteis e volúveis
Recobertas com a espessura que queremos tirar do sentido
E da circunstância
Porém, os actos… ah, os actos…
Na sua nobre ou vil solidez contêm uma argamassa que os erige a alturas inefáveis
Posso dizer amor de milhentas formas
E contudo, senti-lo de tão raras maneiras…
E quando quero transmiti-lo desconfio até das palavras
Palavras que qualquer caixeiro-viajante de rutilante retrosaria
Usa no dia-a-dia…
Ah as palavras que dizem amor!
Como são banais e ao alcance dos oficiais de bons ofícios, de todos os ofícios…
E como isso me entristece
A mim, que queria ter palavras só minhas para dizer o meu amor


E como é possível que a língua-nossa-de-cada-dia
Aquela que diz pão, sim e não, irmão e dor…
Não tenha a palavra para dizer o meu amor?
Uma palavra que fulgisse, que estrelasse o breu
Que fosse sedosa e imperiosa
Que se dissesse aos gritos e em sussurros
Que te acendesse as chamas dos olhos e do corpo
E te banisse as dúvidas da boca e coração
E fosse ainda capaz de te roubar a razão…

Ensaio gestos que as supram
Num bailar de mãos e pernas confundido
E grotesco resulta o arabesco intentado
E o gesto, o gesto que também me falta
Cede ao silêncio da renúncia
… A eloquência mais singela, imaculada e verdadeira
Que encontrei
Para te dizer o meu amor…
E quando não entendes e nele sabes ler tudo
Menos aquilo que diz…
Lês arrogâncias desmedidas
Orgulhos desmesurados
Acintes açulados
Crueldades cometidas…


… Lês tudo o que lá não está
Eu, mudo, entristeço-me ainda mais

E penso que se não soube achar palavras
Se os gestos foram inábeis piruetas
Se o silêncio apenas gerou equívocos calados
…Tão distantes de mim… do meu amor
De tudo que queria para ti. E tu recusaste …
Até a dor…
Sou um fraco amador que achou o amor
E nunca to pôde dizer
Pela fé perdida nas palavras
Pelos gestos não gerados
E pelo silêncio até tão mal ouvido…



Viseu, 25 de Janeiro de 2005
22h10