domingo, março 01, 2009

Fogo

Sim, há sempre um silêncio ardente. A ele me remeto como símbolos a fogo gravados na pele, da dor, fremente. Nele depuro intenções e burilo actos.Disfruto de um tempo único e pairo sobre todos os ruídos. Atingir a afonia aguça os dentes e deixa delgada a língua de puímento. Faz da boca crasta onde nervuram os mais belos ecos das penas voedeiras. É um limiar de múrmuro onde a luz persegue a sombra como as nuvens aos falcões. Um privilégio, o de procurar palavras. Será o legado léxico. Quem as herdar, assume buscar as filtradas frases que transbordarão do seu pensamento, em sonhos escritos na alvorada. Resumi-las-á numa forja a um período singular com a forma de uma tartaruga impávida cem anos imparada, no tempo ausente peregrina persistente aos górdios cardinais. A todos ordenará seu cálice. Ao sul o plurívoco sujeito. Ao norte o predicado muito trabalhoso. A ocidente os complementos ambíguos. O oriente aceita, resignado em disciplina e rigor, um centanar de anástrofe(s). Sim, há sempre um silêncio ardente. Nele se consomem os sons. As falas. E na (a)cama das cinzas adormecerá a centelha ansiando o tempo do som que não a estranhará. No aço da espada será gravada. Para imprimir em todos os incrédulos corpos o fogo lavrado no sulco. Ferida ardendo no tempo que a/é prometeu.