'O Livro da Marianinha'
Carregal, a Igreja do Espírito Santo
A casa em que nasci, Marianinha,
está voltada a Su-sueste
e tem à frente um cipreste
de atalaia à seara e à vinha.
Casa já antiga, descaiada,
se o Sol lhe bate na fachada,
inunda-se a varanda de alegria;
tia Rita fia na roca
e dos buraquinhos da alvenaria
salta pardal com pardaloca.
À velha chaminé é um regalo
ver o fumo subir, fazer halo.
No montado, ouvem-se anhos a balir
e derretem-se lantejoulas a luzir,
trouxe-as a Primavera no regaço
e espalhou-as pelo tojo, urze, sargaço,
sem desprezar trigal, jardim,
rampas, refúgio de erva ruim.
Manhã cedo, rompe a cantata,
nas árvores de fruto e pela mata.
-- Sol, Sol! -- trauteiam os pardais,
tordas, melros e verdiais.
-- Sol, Sol! -- pede o tuinho na balsa
e o auricu que apagou o candil na salsa.
(...)
Aquilino, R., O Livro de Marianinha, Bertrand, 1963.
A casa em que nasci, Marianinha,
está voltada a Su-sueste
e tem à frente um cipreste
de atalaia à seara e à vinha.
Casa já antiga, descaiada,
se o Sol lhe bate na fachada,
inunda-se a varanda de alegria;
tia Rita fia na roca
e dos buraquinhos da alvenaria
salta pardal com pardaloca.
À velha chaminé é um regalo
ver o fumo subir, fazer halo.
No montado, ouvem-se anhos a balir
e derretem-se lantejoulas a luzir,
trouxe-as a Primavera no regaço
e espalhou-as pelo tojo, urze, sargaço,
sem desprezar trigal, jardim,
rampas, refúgio de erva ruim.
Manhã cedo, rompe a cantata,
nas árvores de fruto e pela mata.
-- Sol, Sol! -- trauteiam os pardais,
tordas, melros e verdiais.
-- Sol, Sol! -- pede o tuinho na balsa
e o auricu que apagou o candil na salsa.
(...)
Aquilino, R., O Livro de Marianinha, Bertrand, 1963.
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