quarta-feira, abril 25, 2007

Permanente Alforria

1. o paredão enfrenta o mar que agride
2. a gaivota sulca o ar que acolhe
3. o sol arreda a nuvem que corteja
4. o mar liberta a onda que revolta
5. a areia sorve a água que agrega
6. o pé pisa a concha que estranha
7. o corpo saúda a natureza que alenta
8. a solidão rodopia no ar que afaga
9. a manhã coalha-se na luz que transporta
10. o cansaço esbarra no quadro que confronta
11. o sábado esgota-se no ocaso que redime
12. a intenção queda-se no esgar que não se cumpre
13. o domingo chega na cópia que oprime
14. o homem só regista o tempo que o suprime. e eis
15. que a liberdade toa no peito o acto de ufano feito ave,
16. no infinito convocando ao vento a esperança
17. em Abril canto comum de silêncios incontidos
18. liberdade do poder íntegro. inteira alforria do ser,
19. que nega a agressão
20. e ao pé o direito de pisar
21. e as solidões rodopiantes
22. e esgotados sábados redentores
23. e cansaços esbarrados de confrontos
24. e esgares em rictos mal cumpridos
25. e cópias das supressoras opressões.


pn, in Na Liberdade, Antologia Poética, 30 anos - 25 de Abril, Garça Editores, 2004.