domingo, janeiro 27, 2008

o direito à indignação

Ontem, no decurso de uma visita a Évora, o senhor primeiro-ministro, ao ver-se confrontado com apupos e vaias por parte de uma manifestação de PORTUGUESES, comentou, infeliz, crispado e chocarreiro:
"Há três anos que sou 1º ministro, já me habituei a manifestações destas que fazem parte da festa da Democracia."
1. A infelicidade que o assola, manifesta-se nos infelizes comentários deste e doutro teor;
2. A Democracia, senhor 1º ministro, nunca foi uma festa, mas sim um direito inalienável pelo qual muitos portugueses lutaram. Vª exª não estará incluído, pois antes do 25 de Abril seria um miúdo. E se fosse uma festa, nunca o seria com o seu governo que tantos direitos dos portugueses trabalhadores tem posto em causa de forma irreversível. A Democracia seria uma festa se não houvesse perto de meio milhão de desempregados em Portugal, se todos os dias os portugueses não fossem confrontados com atentados aos seus mais elementares direitos, como o da estabilidade profissional, do direito à reforma justa, à saúde, à justiça, etc.
3. Vª Exª crispa-se na sua arrogância, quando ouve legítimos apupos. E rejubila quando escuta frenéticos aplausos. Pena é que estes últimos só sucedam nos comícios do seu partido e por parte dos comissários e lugar-tenentes da claque. Seria bom que se questionasse das causas que não dos efeitos e sobre eles seriamente reflectisse. Com alguma humildade que nunca foi engulho de ninguém.
4. E no mesmo dia, passeando-se de barco pelo Alqueva, deslumbrado, convida todos os portugueses a irem conhecer e fazer turismo local... Poupe-nos ao despautério desrazoado da politiquice rasteira. Os portugueses, na sua esmagadora maioria, andam preocupados com o custo da vida, com a carga fiscal, com a chegada do fim do mês de bolso vazio, com a precariedade de emprego, com a impositiva mobilidade dos postos de trabalho, com os idosos e jovens do interior que morrem diariamente por falta de assistência médica, com a megalomania das suas políticas, com a sua obsessão do déficit, com a desumanização das políticas...
5. Por isso, eu que votei em si, num acto de absoluta cegueira, percebo a infelicidade que transparece dos seus ditos... e os portugueses, em geral, começam também a perceber!