quarta-feira, junho 04, 2008

manus

Sempre considerei as mãos como extremidades ansiosas de nós.
Recordo, na minha distante juventude, o dar de mãos como aceitação tácita de um idílio nos seus primeiros esfusiantes e tímidos passos.
Hoje, ainda, a imagem bucólica de um passeio campos afora, ou à beira-mar trilhado, contém essa revisitada imagem do dar as mãos.
Aliás, a própria expressão carreia uma cálida ternura.
Diferente do apertar a mão, o dar a mão é entrega mais que compromisso ou saudação.
E a mais das vezes, é o primeiro contacto físico, táctil, entre dois corpos que já se miraram e cheiraram, pelo qual sentimos a pele do outro, áspera ou sedosa, quente ou fria, seca ou húmida, pelo qual intuímos das segundas percepções acerca do outro, com as quais, ritualmente, sabiamente, lentamente, vamos construindo um percurso de fruição.
Há um discurso mudo e eloquente na linguagem das mãos.
Amoroso ou belicoso.
Do afago ao murro, do apelo ao adeus, a mão é boca e bulha, sempre símbolo da proximidade dos corpos, à distância de uma mão, e do inefavelmente intraduzível/pugnativamente exprimível.
A Mão é de-obra, morta, cheia, entrave, solidariedade, possessão, quantidade, rigor, autoridade, punição, manuscrito, manipulação, manivela, punhado...