a fazer de cronista
Vamos então dar relato do dia de domingo.
Como sempre, erguer às 07H00, passear os cães na Quinta do Bosque. Depois, saída para Sernancelhe, às 09H00, pois estava marcado encontro no cruzamente do Freixinho, junto à barragem do Vilar (rio Távora) com os presidente e vice-presidente da câmara. Acompanhavam-me o dr. Jerónimo Costa e esposa.
Marcáramos encontro às 10H00 com os nossos convidos, Engº Aquilino Ribeiro Machado, esposa e filha, no Hotel Rural, Convento da Nª Sª do Carmo, uma magnífica peça histórica do séc. XVII.
Tempo de cumprimentos, uma bica local e ala ao Carregal, a visitar a casa onde nasceu a 13 de Setº de 1885 o escritor Aquilino Gomes Ribeiro. Recebidos de braços abertos pelos actuais proprietários, o sr. Castelo e a dª Fernanda, porta franqueada, permitiram, pela 1ª vez que o filho e a neta do Escritor entrassem naquele que foi seu primeiro quarto e da janela avistassem os ciprestes e a Igreja do Divino Espírito Santo, tão bem descritos em Cinco Réis de Gente.
Após, rumámos ao Santuário da Lapa onde nos aguardava o presidente da junta, sr. Abel Monge e o reitor do Santuário, p. Amorim. Tempo de visitar o Colégio para onde, a 7 de Julho de 1895 (e até 1900, quando ruma ao Colégio de Lamego), fora estudar o Mestre, História, Geografia e Francês e onde o gosto pela leitura lhe é primeiramente despertado com O Bem e o Mal, de Camilo Castelo Branco.
Escreve em O Livro do Menino Deus:
No geral (os alunos) andavam para padre. Mas o colégio, que guardava o título do tempo em que os jesuítas instituíram ali uma residência, habilitava para outras carreiras, em especial para doutor em leis (...). Tal como se encontra, com paredes duma espessura de fortaleza, janelas amplíssimas de seixas, cornija abacial, todo de granito em que nem o tempo, nem o sol e a chuva metem dente, desafia a eternidade. No píncaro da serra, negro, imenso, parece uma verruga da terra. E, quando o sol poente lhe bate nas vidraças, o incêndio flameja pelas aldeias muitas léguas à roda.
Escreve em Uma Luz ao Longe:
Aí compus as primeiras linhas. No refeitório recitavam-se trechos de prosa e verso, tirados, por via de regra, da selecta. (...) Pois eu, não encontrando trecho a meu gosto ou porque quisesse ser original -- mania esta de que nunca mais me corrigi, com manifesto dano na nossa tortulheira tão indiferente à imitação -- verti uma poesia do francês, que foi muito saboreada.
O engº Aquilino Ribeiro teve o ensejo de nos indicar a 'cela' de seu pai, hoje quarto para peregrinos com o nº 33 (e sabia-o, porque 50 e tal anos antes, seu pai lho havia indicado).
Depois da Lapa o Convento de Tabosa, do Valeroso Milagre. Já em Sernancelhe o miradouro da Senhora de ao Pé da Cruz e, o estômago reclamando, um opíparo almoço, sabiamente confeccionado no restaurante Casa do Avô, do sr. Pedro Loureiro.
Salão Nobre da Câmara e, finalmente, Centro de Artes, onde perante público numeroso se inaugurou a Exposição da Obra Integral de A.R.
Seguidamente, Biblioteca Municipal e inauguração pela dra. Mariana Machado Ribeiro (O Livro de Marianinha) da Sala Infanto-Juvenil Arca de Noé (obra dedicada a Aquilino Ribeiro Machado), e inauguração da Sala de Conferências Aquilino Ribeiro, por mão de seu filho.
De caminho, para o Auditório Municipal, fomos ouvir duas peças de piano, virtuosamente executadas por André Cardoso, não sem que antes, na penumbra, ecoassem as palavras de Aquilino Ribeiro, naquela que foi a sua última entrevista radiofónica, a Igrejas Caeiro.
Mal saídos da porta afora, um grupo de concertinas nos aguardava, para nos levar, em cortejo, à zona histórica onde pontificava uma excelente merenda aquiliniana (ufa, que trabalheira!).
O dia estava chegado a seu término. O cansaço, dadas as mãos ao calor, fazia-se sentir. Os visitantes partiram para Lisboa. Nós, apesar dos esforços dos inexcedíveis dr. José Mário e Carlos Santiago Silva, os edis locais, para permanecermos noite adentro para a festa que continuava, desta feita do recinto da Feira, rumámos a Viseu...
Raro é um dia assim. Inexecedível, a prestação do Vice-Presidente e Vereador da Cultura, dr. Carlos Santiago Silva. Também com algum do nosso humilde empenho, tudo com êxito se coroou, o que nos dá alento para mais iniciativas. A Câmara de Sernancelhe e o seu Presidente não enjeitam obra e por todo o lado no-la mostram. Se até o engº Aquilino Ribeiro Machado, durante tantos anos Presidente da maior autarquia lusitana, Lisboa, o reconheceu, quem somos nós para o contradizer?
Anuncio aqui a saída, para breve, da Revista Literária da Câmara Municipal de Sernancelhe, AQUILINO, que intentaremos dar ao prelo em Setembro próximo.
<< Home