acronia
Sou chegado ao lugar sem presente.
Abre-se a terra e de seu seio de madre úbera brotam miasmas libertos.
Árido, o planalto solta das entranhas um córrego prodigioso de alegria salteada entre lapêdos e lanchas de granito azul.
O frio cai do céu e sobe da terra, armando um véu pesado cobrideiro do sol a meia tarde.
Os cem trilhos afluentes são carreirais bordados a giesta tersa e tojo alteiro.
Caminhos cegos e mudos segredeiros da origem e destino.
E na parte mais côncava daquele ermo plaino, as casas, como tocas, castros emuralhados rompem da terra e da rocha em lajões verticais amaneirados ao tosco jeito de mãos sem luxos.
Casas destelhadas ao céu abertas em cruz de torças minadas pelas rugas fundas dos anos, donde se erguem, ainda desarvorados, hirsutos caibrais de ferrugem sangrenta.
As portas sucumbidas nos cambais, das soleiras franqueadas, abandonadas sem cerrar, perdida a mão de abrir e o passo de transpor, cedem à silva de feroz maninha a teia mais urdida que castanho grosso de salgadeira ou prisão de miserável.
Dentro, o mesmo vazio desolado empilhado em pedras perdidas das paredes e do madeirame destroncado.
Sou chegado ao lugar sem presente.
De onde as aves partiram do denso céu, os lagartos fugiram das lapas frias, as aranhas morreram no pasmo da trama, os lobos padeceram à míngua estremecida no uivo da dor finda e os láparos ensandeceram nas luras devassadas pelo nordeste.
Terra sem tempo onde só incólume persiste o passado de atalaia ao regresso.
Lugar para ficar no que esperara, deseivando ao ouvir da escassa ramaria o picar da chula ao vento, na penumbra cinza do presente, ao frio da antiga citania onde a chama esforçada a custo luze no borralho brazeirado.
Aí a pele curtirá, sob o burel crestada, no abraço grosso e rudo do cilício do frio.
Aí o espírito enrijará ao jejum ascético de ervaria magra e água leda.
Aí o corpo será, enfim, dado à terra, quando esta se abrir no eixo que é cruz, onde a dor se esgota crua deixando em seu seco vazo a paz da morte veza.
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