A neve ladroa
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" (...) Seriam dez horas e caía a neve ladroa, que entra pelas casas – juntas do telhado, buracos da alvenaria – melhor que trasgos ladinos.É a neve em faíscas que, não bailando nem se vendo descer do céu, parece chegar de longe, num voo rasteiro, sem quebra. É a concubina danada do vento nordeste. Ambos, pela serra fora, são como dois cavalões encrespados a correr. Fustigam o viandante, derrotam as matas, as aldeias ficam barrocais – da brancura cogulada a uma banda, do negro, poupado, a outra. Quem está debaixo de telha deixa-se estar, que para lapas e apriscos enxota ela os rebanhos e os animaizinhos do monte (...) "
Aquilino Ribeiro, Terras do Demo, Bertrand,1919
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