quarta-feira, fevereiro 18, 2009

(re)tributo a Sebastião Alba

“a nossa morte é um assunto de outros”

Escrevias tu, Alba, pouco antes de morreres.
Mas estavas enganado, homem!
Mataram-te, deixaram-te numa berma escura da estrada, perto de Braga (que também te viu nascer) a 14 de Outubro de 2000, e contrariados, quando descobriram o teu corpo atropelado, atiraram-te para a morgue, onde jazeste dias esquecido, até tua irmã te resgatar para te dar, enfim, à terra.
Se ainda te tivessem ignorado num banco de jardim, junto a uma fonte…

A tua morte era pois um assunto de ninguém.
Lá tinhas um bolso cheio de papéis.
Os teus fragmentos.
Uma identificação.
Mas os abutres não sabem ler papéis desalinhados escritos a tinta vermelha.

… Qualquer dia não te safas e és lugar de peregrinação.
Mesmo palrando como o papagaio do Jorge de Sena, momentos antes de morrer:
Puta que vos pariu, a todos!”

Poeta.
Morto atropelado.
& aventureiro.
Reúnes as condições essenciais para inflamares os imaginários vis.
Os das homenagens póstumas.
Aqueles que cuspiam para o lado ao entrever-te, mudavam de passeio ao vislumbrar-te, e punham um lenço alvo renova a tapar os dois buracos do ranho.