Muros
Há um muro para lá do qual não passam as palavras. Um muro retentor dos discursos. Um muro de silêncio onde as palavras e os tijolos, por força destes, intentam diálogos entre as palavras e as coisas. Há um muro onde elas se fundem e ufanas ficam para além da efémera perdição. Se as palavras são irreversíveis e se essa é a sua fatalidade, que a fatalidade perdure para lá da intenção e se esqueçam emissor e receptor primeiros, intenções, e todos os dias se renovem aos olhos que as lêem. Há um muro à porta de minha casa, outro na mesoptâmia, no egipto, no méxico, outro na china... há muros que enraizam as palavras e... ce n'est pas facile, d'être un mur, tout seul. Há muros que dão solidez às palavras e são menos perecíveis que alexandria. No fundo, les murs ont la parole e contam amores e revoluções, exaltações, desânimos, jacentes mortes. Há muros que só foram criados, não para separar o teu ter do meu ter, mas para as eternas confidências...
Há uma história por contar nos muros do meu mundo, e na pedra que te atiro, cavalgo o espaço e a palavra rompe o tempo. E perdura, epígrafe do silêncio.
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