terça-feira, agosto 04, 2009

Caso do Paço ou de D. Loba - Fonte Arcada


Provavelmente construída por Fernan Sanches, no século XIII/XIV. Em 1400, Fonte Arcada foi doada por D. João I a Gonçalo Vasques Coutinho. Mais tarde, foi herdada pelo 4º Conde de Marialva, Francisco Coutinho, que a deixou a sua filha D. Guiomar Coutinho, Condessa de Marialva. Esta casou com o Infante D. Fernando, filho de D. Manuel I, em 1530. Este matrimónio foi atribulado, porque apareceu D. João de Lencastre, a avocar sua nulidade, alegando ter desposado clandestinamente a noiva. D. Fernando teve um grande desgosto e veio da corte para Fonte Arcada onde faleceu pouco tempo após. Esta união foi amplamente satirizada na época, por vários poetas, e até Sá de Miranda a ela se refere. D. Fernando, Duque da Guarda, nasceu em 1507 e morreu em 1534, aos 27 anos.

de Sá de Miranda, extractos:
Porque dizer a verdade
livremente, sem engano,
traz consigo tanto dano,
que pode tanto a maldade
que faz mal ao desengano.
Écloga Montano
...
Não tem repartida a terra
por marcos tam desiguais,
de sangue e fogo, por guerra;
um possue de serra a serra,
outro nada, ou dous tojais.
Écloga Basto
...
Em fim, quando m'alevanto,
ou hei-de morrer d'espanto,
ou, se não m'espanto, mato.
Carta a António Pereira, Senhor de Basto

Há um texto, "Epístola de Mendoza a D. Simão", que se refere a uma Dona Guiomar Enriques que foi dama da Infanta D. Maria de Portugal (1521-1577), e que reza:
Dona Guiomar, debria tu deidad
Hacer algun regalo a don Simon
Pues lo merece bien su volontade.
Também Camões se apaixona por uma Dona Guiomar, dama da Infanta, a mesma naturalmente, a quem dedica este soneto:
Quando não te Vejo Perco o Siso
Formosura do Céu a nós descida,
Que nenhum coração deixas isento,
Satisfazendo a todo pensamento,
Sem que sejas de algum bem entendida;

Qual língua pode haver tão atrevida,
Que tenha de louvar-te atrevimento,
Pois a parte melhor do entendimento,
No menos que em ti há se vê perdida?

Se em teu valor contemplo a menor parte,
Vendo que abre na terra um paraíso,
Logo o engenho me falta, o espírito míngua.

Mas o que mais me impede inda louvar-te,
É que quando te vejo perco a língua,
E quando não te vejo perco o siso.
A ser a mesma, mulher fatal seria. Porém, é curial ter em conta um facto que não é de desprezar, Dona Guiomar era uma das mais apetecidas herdeiras de Portugal, pois que o rendimento do seu património orçava os 14 mil cruzados.
(Cada cruzado valia 400 réis, em prata de lei. Por acaso aindo detenho alguns de meu falecido e numismata progenitor. A este propósito, um dia, na Quinta do Ladário, quando se procediam a obras de manutenção num muro esboroado, apareceu um saco em carneira contendo 64 cruzados, ou seja, 25. 600 réis, uma pequena fortuna, na época, provavelmente -- conjecturo -- postos a bom precato durante as Invasões Francesas).
E começámos com a Casa de D. Loba e daqui a nada estávamos em Waterloo...!