terça-feira, agosto 04, 2009

Portas & janelas de Fonte Arcada

Esventrado e altaneiro varadim de adobe à vista, a resistir na fragilidade arredia do granito, ao passar dos séculos.
Circular (perfeccionista símbolo) esta fechadura...
Esta única janela a encimar a torsa não tem mais que 40x40 cm. O recato? Gente sem curiosidade de ver o exterior? A protecção contra os maus olhares e os rigores da invernia beiroa? Ou apenas timidez?

Aqui (infra) nesta porta velada de teias morosamente urdidas, ficaram esquecidos (porquê?) os artefactos da lavoira, do carro dos bois... Gente descuidada ou drama imprevisto?
Supra, a ufania armoreada que abre para um pátio de fidalgo passadio...
A contrastar com o janelo, diminuto, mas com mísula lateral, talvez para um florido vaso, numa singela garridice.
Casa da Loba, séc. XIII . A cruz, in hoc signo uinces...
As portas e as janelas são, para mim, elementos isotópicos. Já analisei toda a sua simbologia e já fui ao inconsciente e voltei... Ponto final.
Quando chego a uma aldeia e começo a remirá-las, quase me atrevo a fantasiar sobre a personalidade dos seus (ex) habitantes, tristezas e alegrias, seus hábitos, costumes e tradições, estatuto social, pobrezas e riquezas, através das madeiras usadas, o castanho, o carvalho, o pinho, a cerejeira... das cores, dos formatos, das fechaduras, dos cravelhos, da dimensão (altura/largura), do seu enquadramento, torsas, tímpanos e silhares, mísulas, pilastras, alpendres...
Para muitos, são despiciendos e utilitários artefactos, outros nem as vêem, ou perderam olhos de ver, eu pranto-me pasmado a prescrutá-las e a ouvir ecos, litanias do passado, espécie de demiurgia da organização de um cosmos pessoal.
Também, com a idade que tenho, já ganhei o direito (ou o dever?) à insania!
Et... pourtant, je m'en fous...!