sábado, setembro 12, 2009

As palavras

As palavras, quando chegam a nós, trazem, mor das vezes, longuíssimas diacronias existenciais. Ora envoltas no rolamento que as mingua, como ao seixo tão corrido no leito frio do córrego, ora recobertas, como ao granito, de musgo protector, no gasalho umbroso dos centenares carvalhais...
Sou um curioso da origem das palavras, ou etimologia (de tumos, verdade e logos, tratado). De onde vem esta palavra, aquela expressão, porque é que tal palavra em dada sincronia tinha um significado, noutra sincronia, a evolução ou regressão semântica atribuiu-lhe outro sentido diferente, etc. Por exemplo, "estupor", em Crónica de Fernão Lopes, significava "grande espanto", cito de cabeça: "quedava-se El-rei em seu estupor...", tendo hoje evoluído negativamente, para pessoa de má índole ou duvidoso carácter (que, às vezes, também causam o tal espanto, se imprevistas nos seus actos...).
Por vezes tenho uma curiosidade do tipo da presumivelmente sentida por Frei Joaquim de Santa Rosa de Viterbo, o autor do primeiro dicionário português em II tomos, "ELUCIDÁRIO" (1798 e 1799), que nasceu em Gradiz, Lapa, (1744) e faleceu no Convento da Fraga, em 1822. Aquilino refere-o amiúde. Dois beirões, dois filólogos, nascidos à distância de um tiro de calhandrina, Carregal e Gradiz. Dois homens de muitas palavras, compulsadas com contumaz persistência, pertinência, genialidade e arte.
Por curiosidade, possuo a grande edição crítica, por Mário Fiúza, de 1993, ed. Livraria Civilização.
Hoje, num texto que estava a ler, apareceu-me um pouco descontextualizada a palavra "missa". Mas só o estava por in-ponderação minha, pois missa vem do particípio passado de mittere, que quer dizer "enviar". Então qual a relação? É simples, a fórmula era esta quando a missa terminava: ite, missa est. Que queria dizer: "Ide, (a oração) foi enviada (a Deus)."
As palavras têm pois uma longa vida. Saber-lhe a origem é conhecê-las melhor. O Homem, que é tão capaz de buscar as suas origens, consubstanciado em elaboradíssimas pesquisas, frequentemente esquece as palavras, que compõem a língua e são a base da comunicação, do tornar comum, da partilha...
Bom Sábado, vou deleitar-me com a final do Festival de Guitarra Clássica de Sernancelhe. Não temos Serralves, colecções Berardo, Gulbenkian... mas temos (e não visitamos) o Museu de Grão Vasco, o de Almeida Moreira, em Viseu, o Museu de Lamego... e... Autarquias como as de SERNANCELHE, para as quais, cada fim de semana, é uma Festa Cultural. Já agora, não se esqueçam: no próximo fim de semana, de 19 e 20, decorre o Colóquio "Voltar a Ler III", Aquilino Ribeiro. Que estão, pois, à espera para se inscreverem em http://www.cm-sernancelhe.pt/ ? Vamos lá a arredar essas inércias!