Re post
Andei a coscuvilhar os dias idos. E deparei com este post, parcialmente antagónico do anterior, mas com muito de comum. Aqui fica, de novo.
Domingo, Fevereiro 28, 2010
É vento, tal lamento...
Hoje, sábado, 27 de Fevereiro, às 16h46, estou deitado a ler. Lá fora, o vento cresce e o seu sopro é tão violento que me quêdo a escutá-lo.
A faia da entrada, como uma acrobata romena, ousa ângulos nunca vistos, que do coruto ao solo, correm desvairados 180º.
Ouço que no Chile, uma tempestade, um furacão ou qualquer análoga ira da natureza, deixou a devastação onde antes havia a serena calma de um sábado de inverno.
A natureza, definitivamente zangada, perdeu a razoável complacência, e de mãe afável e pródiga, tornou-se madrasta má, perante a destruição sucessiva dos seus eco-sistemas.
Fui há pouco ao Centro Hípico. Os cavalos, inquietos, estremeciam nas boxes um pânico que lhes cinzelava os olhos. As portadas superiores não se seguravam e batiam na parede e no caixilho com um fragor que estoirava os nervos tensos dos animais.
À vinda, um pinheiro enorme, arrancado do solo onde as raízes se embriagaram de água, saltou para a estrada com gemido único e um estrépito de ramalhada.
É uma gaita de foles doida, este vento, num auge de fantástica sinfonia...
No ar não há pássaros. Onde se esconderão ou abrigarão para não serem levados como aquela placa de esferovite, a esvoaçar branca, indecisa, no bosque?
Os cães, soturnos, numa bisonhice aconchegada a mim, acomodam-se com as patas ao correr do focinho seco, de olhos fechados, por vezes entreabertos num atónito ápice, por espasmo do corpo assustado.
É gigantesca, esta ira. Todas as culminâncias têm, em si, a desmesura do formidável, geradora de um esgaçar dos sentidos, represos e soltos na turvação.
A lâmpada do candeeiro é como uma vela de outrora, tremeluzindo numa dança airada.
Os homens, que mandam no meu país, uivam conjuras bestiais como a intempérie rosna a raiva.
Dizia o poeta: " É no ar que tudo ondeia...", e de facto, são vagas fluidas de um tamanho invisível, aquelas que se abatem sobre um povo, ainda há pouco apaziguado em sua melancólica e quase alheia insciência.
A modos que um despertar alarmado ao dobre dolente de finados... estremunhado e dúbio, incerto, hesitando entre a sugestão e o real, o alarme e o susto, o soluço e a cegueira, a acção.
É vento, tal lamento...
Hoje, sábado, 27 de Fevereiro, às 16h46, estou deitado a ler. Lá fora, o vento cresce e o seu sopro é tão violento que me quêdo a escutá-lo.
A faia da entrada, como uma acrobata romena, ousa ângulos nunca vistos, que do coruto ao solo, correm desvairados 180º.
Ouço que no Chile, uma tempestade, um furacão ou qualquer análoga ira da natureza, deixou a devastação onde antes havia a serena calma de um sábado de inverno.
A natureza, definitivamente zangada, perdeu a razoável complacência, e de mãe afável e pródiga, tornou-se madrasta má, perante a destruição sucessiva dos seus eco-sistemas.
Fui há pouco ao Centro Hípico. Os cavalos, inquietos, estremeciam nas boxes um pânico que lhes cinzelava os olhos. As portadas superiores não se seguravam e batiam na parede e no caixilho com um fragor que estoirava os nervos tensos dos animais.
À vinda, um pinheiro enorme, arrancado do solo onde as raízes se embriagaram de água, saltou para a estrada com gemido único e um estrépito de ramalhada.
É uma gaita de foles doida, este vento, num auge de fantástica sinfonia...
No ar não há pássaros. Onde se esconderão ou abrigarão para não serem levados como aquela placa de esferovite, a esvoaçar branca, indecisa, no bosque?
Os cães, soturnos, numa bisonhice aconchegada a mim, acomodam-se com as patas ao correr do focinho seco, de olhos fechados, por vezes entreabertos num atónito ápice, por espasmo do corpo assustado.
É gigantesca, esta ira. Todas as culminâncias têm, em si, a desmesura do formidável, geradora de um esgaçar dos sentidos, represos e soltos na turvação.
A lâmpada do candeeiro é como uma vela de outrora, tremeluzindo numa dança airada.
Os homens, que mandam no meu país, uivam conjuras bestiais como a intempérie rosna a raiva.
Dizia o poeta: " É no ar que tudo ondeia...", e de facto, são vagas fluidas de um tamanho invisível, aquelas que se abatem sobre um povo, ainda há pouco apaziguado em sua melancólica e quase alheia insciência.
A modos que um despertar alarmado ao dobre dolente de finados... estremunhado e dúbio, incerto, hesitando entre a sugestão e o real, o alarme e o susto, o soluço e a cegueira, a acção.
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