terça-feira, dezembro 09, 2008

agon


Porque me lembras o que nunca esqueci?
Desisto de me intrometer nesse charivari tresvairado. Decido gastas as palavras. No mutismo ganho ao tempo o que o tempo quer perder. Percebo que o silêncio te assusta. Recomeças a falar num caudal confuso de palavras com arestas. Ouço o som mas recuso o sentido. Sigo-te os dedos longos, musculados, com ossos sólidos. A dança que te silva os cabelos no ar. Ouço-te nos olhos as palavras grandes. Desperta a feira dos loucos. A lage de granito que esmaga e empurra a terra para dentro das costas. Um círculo de voo em cadeiras de carrocel presas com cadeias de ferro, pés no ar e mãos crispadas nas correntes e os olhos a fugir para as trevas. O presente é um poço onde caio. Estás à minha frente como uma capa vermelha cheirando a rosmaninho de roca. No silêncio o silêncio perdeu a razão. Tudo é precioso de mais. Até o medo. Principalmente o medo... Y ahora que estoy frente a ti / parecemos ya ves, dos extranós; / lección que por fin aprendí. / Como cambian las cosas los años! -- o tempo dum tango antigo -- porque não rasgo esta pele de angústia que me faz suar e prega insónias nas órbitas? Calou-se o tango e em seu lugar, a pianola doida, estrídula, concêntrica, repete a escala cínica do medo. Fere-me os nervos hirtos rés aos estampidos em que cedem, rasgando-me o cérebro com cordas de aço fino. Cerro os olhos até a dor me engolir. Quero quebrar, esfacelar, dilacerar aquela matraca de feira que gira sem cessar a lengalenga pérfida. Se ao menos um vento suão soprasse sementes de acácia!?

viseu, 09/12/08