Boa noite!
serenidade
O homem tem medo da solidão. E cada vez inventa mais justificações para a exorcisar. Não gosto das festas de calendário. Nem mesmo sou muito propenso a afagos. Deleito-me com o isolamento e com os pequenos prazeres que lhe dão sentido. Além disso não receio a solidão, antes achando que o homem só se tem mais a si. E não temo enfrentar-me... Um calmo jantar, apenas com o excesso de um segundo prato que não é habitual. Quatro seleccionados cd's e um livro. Por esta ordem: I. Biber, Muffat e Bertali; II. Du Fay (Diabolus in Music); III. Palestrina (Missa Viri Galilaei); IV. Arvo Pärt (Passio)... lendo, do Stéphane Audeguy, A Teoria das Nuvens, ed. Teorema (para uma forma de olhar e ver o céu).
Entretanto, comunicam-me o trespasse de um parente distante, com nome de poeta antigo. Compunjo-me por instantes agarrado a uma ténue lembrança e penso que ele sempre foi um pouco desmancha prazeres. Até no dia que escolheu para se finar.
Cálido, o ambiente, confortável, o sofá, as horas passam, como outrora em Síbaris. Quando o artificioso fogo estralejar, com a vista já cansada, para descerebralizar, farei um "bonecro" no paint, escreverei um mail pouco urgente e deitar-me-ei serenamente, mais ou menos certo de que vou ter uma noite reparadora. Amanhã será um dia semelhante aos outros. Cumprirei minhas rotinas e congratular-me-ei (muito) por ter acordado sem dores, na posse dos meus cinco sentidos, da minha força e lucidez. Deo Gratis!
Por aí, o espumante-tipo-champagne, adquirido a crédito numa modelar grande superfície, borbulha sua cor d'oiro nas flûtes mais élancées que os copos de vidro grosso comprados na loja do chinês.
Hoje, ofereceram-me uma viagem à Escócia, pelo Entrudo. Coerente, recusei. Mas fiquei muito grato pela lembrança. Devo ser muito boa pessoa! (embora seja o único a pensá-lo).
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