Jardim das Tormentas
Aquilino, decerto não negaria a imagem captada na Lapa benquista, para capa da sua primicial obra, dada ao prelo em 1913.
Tudo é cinzenta solidão amargurada e pétrea, neste espaço.
Topos sem passagem, nem de corpos nem de vistas.
Portas e janelas cerradas por vetusto granito.
Um silêncio total, mesmo de gorjeios ausente, respeita o sítio e o intuito daquele que se emparedou.
Por sua vez, o sítio, espécie de cour carré, mura-se em torno por mais lapêdos milenares, gerando o fechamento dentro do fechamento, ou culminância da endogeneização.
O eremetismo (do gr. erêmos, deserto --» lugar solitário) na sua quinta-essência.
E contudo, a erva não deixa de crescer e a árvore de florir.
A natureza renovando-se alheia ao inumano (aqui, enquanto ausência total do homem).
Que drama aqui se escreveu/viveu, nos tempos sem memória, há muito idos?
Escreve Camões:
Aqueles que por obras valerosas / se vão da lei da morte libertando.
A mor lei da morte é o esquecimento.
Creio que foi o aqui provocado.
O esquecimento total de um ignoto drama vivido.
E isto é já pura e conjectural teia ficcionada...
Aqui germinou/germina desolação (desolare é deixar só, solus, também despovoar).
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