A Volta a quê?
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É Domingo. O calor é um casaco de ferro esbraseado colado à pele nua, peganhenta. O sossego perdeu-se. Andam às Volta(s) de bicicleta por aqui. Dizem que é a Volta a Portugal. Portugal é o bairro onde eu moro? Porque não privilegiam outros? Os helicópteros das tv's atordoam o ar com suas rotativas e motores, em voos rasantes. Avionetas fazem loopings destemidos. A massa ulula. Os pássaros fogem espantados. Não há onde estacionar os carros. As equipas estrangeiras de mecânicos estacionaram suas roulottes em frente. Os Viriatos desceram à cidade a ver os reis do pedal sob a canícula pouco piedosa, correndo atrás dum canário amarelo. Assobiam sirenes. Ferram-se claxons. Piróriris cortam o ar, altifalantes berram coisas incompreensíveis. Talvez brados de triunfo, coisas de guerreiros, ou gritos de élan, essa força anímica que impele para diante e a mim me impele para uma lura fresca, longe de ciclistas e acólitos. Agarro num livro, leio um capítulo. Pego noutro, leio um capítulo. Pego noutro, leio um capítulo. Assim demoro a chegar ao fim. Truques d' entediado. Ouço a harmonia da Antena 2 para cobrir os ruídos circundantes. Os meus cães encaram-me com perguntas nos olhos de ambígua resposta. Talvez: "a que horas acaba o circo?" e eu respondo "Portugal, no Verão é um coliseu. Gigantesco." Ponto final.
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