sábado, agosto 28, 2010

23, as noites…


1.Tal olhar a tristeza me inquieta. Recuso precipitar-me para não dar ânimo à coacção.
2. Incessante, profano, te contemplo, pórtico de revoadas, tolhidas asas e sorvidos ares.
3. Repousar-te a fortuna sofrida num olhar. Ver de olhos em ti perdidos.
4. Porque deixas alar emoção, te aplacas na ausência? Dobre de ira? Sim, mas de profundis.
5. Assim estacados. Espelho ou aço, verosímil imagem da pedra.
6. Seremos estátuas, já que fomos renúncia e da carne somos pedra.
7. A fuga de movimento fixa a tristeza e decora-a para sempre.
8. E só alvitro, sem curar te ouvir: estranha dádiva, a do padecimento…
9. Uma verdade. Mas desconhecida, e assim, mágoa inacabada.
10. Fio perturbado, mal visível, quase em teia.
11. Tenebroso o elo, eixo ou via – a sombra.
12. Ousar girar-te em torno, escandir o gesto para lá do olhar.
13. Atracção, fuga de um centro suspensa na inércia.
14. Aqui pavor de ao ar virado conceder pretexto e ler
15. Palimpsesto (in)crível. Sobrado, também crasta de íris apalpebrada.
16. O mal não finda. Só o prazer é lesto e tu da luz ilusão.
17. Se deitar ao córrego sede e paixão, talvez lírios mas colham.
18. A memória… Tão mal estimada se calhar ao teixo.
19. Que mal haver perder-te assim em fio de luz.
20. De existência, lodo, leito, lençol ao seixo dado.
21. Antes cal nesse canteiro dê cor a tal tristeza.
22. Viver ou achar passo de vida num tanger.
23. Pois, por ora seja. A perdição uma ciência.
Viseu, 28/08/10.