terça-feira, agosto 24, 2010

Os números das Novas Oportunidades

Mas afinal o que é que isto prova?


Segundo o DN de hoje, e baseado em dados da Pordata, em 2009, 33% dos alunos do Ensino Secundário em Portugal eram discentesos do ensino recorrente inseridos no programa das Novas Oportunidades, que visava certificar, até final deste ano, 1 milhão de activos (o que não foi conseguido). Ou seja, em números redondos, hoje no Ensino Secundário, dos 498.320 alunos que o frequentam, 169.190 estão inseridos neste programa.
No Ensino Básico o número é menor, mas não deixa de ser significativo: 206.201 em 1.283.193.
A primeira grande constatação é de que houve durante décadas uma taxa de abandono e insucesso escolar altamente significativa, que reflecte bem a ausência de políticas credíveis dos sucessivos governos nesta área. E só a título paradigmático de exemplo, quero recordar que em Portugal, depois do 25 de Abril, em 36 anos, tivemos 27 ministros da tutela!
Daqui decorre a existência de uma imensa margem da população activa portuguesa altamente desqualificada em termos académicos. Que andou, então a Escola a fazer durante estas décadas? Pelos vistos e pelos resultados apontados há responsabilidades e análises a pedir. Aos professores? Só muito parcialmente. Os professores e as direcções das Escolas cumprem, maioritariamente com zelo e brio, as orientações dimanadas do ME. O ME é que, até e pelo número de responsáveis que ocuparam a pasta, não tem tido qualquer política educativa. Quanto mais uma política válida, coerente e consistente no âmbito da sua responsabilidade.
As Novas Oportunidades, aceleradamente postas em prática, com fragilidades estruturais imensas, foram o “remendo” encontrado para contrariar números e estatísticas que nos colocam muito mal no ranking europeu.
E tal como um oásis mirífico no deserto ardente, a ele ocorreram, louvavelmente, às centenas de milhares, todos aqueles que, por um motivo ou outro, não conseguiram prosseguir os seus estudos. E para quê? Para ascenderem profissionalmente em função da habilitação adquirida. Para produzirem mais e terem melhores salários.
A grande questão, porém, coloca-se: Será que o Ensino proporcionado pelas Novas Oportunidades é, de facto, algo de formativo, exigente, prático, uma ferramenta valiosa para o mundo de trabalho? Parece que não, segundo dados apurados em inquéritos feitos: os alunos certificados, na sua imensa maioria, não encontraram quaisquer compensações a nível profissional e remuneratório.
Porém, se a conjectura económica actual é adversa, com seus malignos reflexos no mundo laboral, um trabalhador mais qualificado, na teoria, deveria ser um trabalhador mais produtivo. E se mais produtivo, deveria ser mais estimulado. A não se verificar tal constatação, o legítimo desiderato de todos quantos acorreram ao ensino recorrente, apenas nas estatísticas foi proficiente e profícuo.
E a ser assim, estamos perante o quê? Um falhanço?
Uma política que apenas a médio/longo prazo vai ter repercussões assinaláveis estimáveis?
Um truque de ilusionismo, ou um grande logro?